Daniela Lobarinhas

Outubro2022




RECURSOS MINERAIS

SÓCIA APG Nº O1393







É natural de Barcelos e trabalha na área dos recursos minerais. O "Grande Atlas Mundial" foi o seu primeiro contacto com as Ciências da Terra. Entrou 1º em Bio-Geo, mas logo sentiu que a sua vocação era a Geologia. A galena é o seu mineral preferido.

"Onde estou agora é exatamente onde quero estar (...) a minha profissão de sonho é ser geóloga"

E eis que nos chega outubro e com ele a benjamim desta primeira edição do APG365, a Daniela Lobarinhas. Foi em Góis, em frente à folha 19-D da Carta Geológica de Portugal, e com a Daniela estrategicamente posicionada a tapar a parte que está a oeste da Falha Porto-Tomar, que lográmos confirmar a influência das publicações das Seleções do Reader's Digest no futuro profissional dos filhos da segunda metade do século XX. A Daniela é uma "vítima" do "Grande Atlas Mundial" e não sofreu sozinha, contaminou a irmã, que acabou por ir pelo mesmo caminho geológico, que um mal nunca vem só, diriam os pais. Venham conhecer esta geóloga minhota, que tem um gostinho especial por campanhas de sondagens e que não tem quaisquer dúvidas de que agora está exatamente onde quer estar: a ser geóloga!


Entrevista 

Góis, outubro de 2021


1. Nome, idade e local de nascimento

Daniela Lobarinhas. Tenho 34 anos e sou natural de Barcelos.

2. Se tivesse de resumir numa única frase o que fez profissionalmente, para leigos, o que diria?

No fundo, busco os recursos minerais que a natureza tem para nos oferecer.

3. Em que ano e onde ingressou no curso de Geologia?

Entrei em 2006, na Universidade do Minho.

4. O que a levou a seguir Geologia?

Sempre gostei muito de Geologia. Na verdade, entrei no curso de "Biologia e Geologia" em 2005, mas depois mudei, em 2006, porque senti uma maior ligação à Geologia. Acho que a vida me foi guiando para lá...

5. Qual foi o seu primeiro contato consciente que teve com a Geologia?

Olhando para trás, sempre estive muito envolvida pela Geologia. Quando, de facto, percebi o que a Geologia significava, é curioso, foi através de um livro que o meu pai tem lá em casa, o "Grande Atlas Mundial" [Selecções do Reader's Digest], que tinha os minerais, tinha os planetas, os fósseis, as eras e eu achava sempre fascinante. Mas muito longe de pensar que um dia me tornaria geóloga. Simplesmente, sempre me fascinou muito essa área.

6. Estamos a falar de que fase, ainda na infância, na primária?

Sim, sim. Era miúda, teria cinco, seis anos. Talvez sete, por aí. Ainda muito jovem.

(...) foi através de um livro que o meu pai tem lá em casa, o "Grande Atlas Mundial", que tinha os minerais, tinha os planetas, os fósseis, as eras e eu achava sempre fascinante (...)

7. E depois quando teve a disciplina das Ciências da Terra, no sétimo ano, sentiu um pouco aquele interesse que já viria dessa consulta do livro?

Sim! Aliás, sempre tive muito melhores notas a Geologia do que propriamente a biologia, que na escola elas andam sempre juntas. A Geologia esteve sempre presente.

8. E apercebia-se da Geologia para lá do livro? Há pessoas que nasceram em sítios onde foram confrontadas com a Geologia desde crianças. Tendo crescido em Barcelos, teve esses estímulos?

Ali naquela zona há sempre pedreiras ou exploração de caulino, mas é uma Geologia diferente daquela que agora pratico e que realmente gosto. Mas sim, sempre houve ali uma envolvência geológica na minha zona.

9. Era mesmo geóloga que queria ser ou temos aí um desejo anterior oculto que acabou por não se concretizar?

Eu acho que, no fundo, sempre quis ser geóloga. Agora sou aquilo que realmente sempre quis ser, não foi uma circunstância. E por isso, sim, a minha profissão de sonho é ser geóloga. 

10. Recorda-se a partir de que idade é que sentiu isso? Quando é que começou a responder "geóloga" à pergunta "o que é que queres ser quando fores grande"?

Acho que nunca respondi a essa questão dessa forma. É como eu digo, a vida acabou por me encaminhar sempre nesse sentido, porque nunca tive esse sonho. Mas a verdade é que onde estou agora é exatamente onde quero estar.

11. Na família, quer em gerações anteriores ou posteriores, há mais alguém ligado à Geologia?

Há, mas é numa geração paralela, que é a minha irmã, (sorriso aberto) ela também é geóloga. Eu costumo dizer "coitados dos meus pais, têm duas filhas malucas". (risos)

12. A irmã é mais velha ou mais nova?

Mais nova.

13. Ah... então ela é que foi a vítima!

Um bocadinho, embora nos tenha surpreendido a todos. Mas sim, se calhar foram as interferências. Mas ela seguiu uma área oposta à minha.

14. A irmã também fez Geologia no Minho?

Sim, também lá fez a licenciatura e fez depois o mestrado. Vai agora iniciar o doutoramento no [Instituto Superior] Técnico, isto é só uma curiosidade... Está a desenvolver trabalho na área das rochas ornamentais e na interferência que o fogo tem nas suas propriedades.

15. Foi uma aluna média, boa ou muito boa durante os tempos universitários? Fazia parte das mais calados ou das mais participativos?

Eu acho que me posso considerar uma boa aluna, nunca deixei nenhuma cadeira para trás, fiz tudo à primeira e acabei com uma média razoável, por isso sim, considero-me uma boa aluna.

16. No tempo em que foi estudante, seguramente muitos professores, de uma forma ou outra, tiveram impacto em si. Se pudesse escolher um dos professores que mais a influenciou nessa altura, quem escolheria?

Apesar de todos eles terem tido um papel sempre crucial e importante, houve um professor que se destacou um bocadinho mais, não só porque trabalha na área dos recursos minerais, mas também pela paixão que ele tem pela Geologia e por ter passado isso aos alunos. É o professor Carlos Leal Gomes, da Universidade do Minho.

17. Tem algum geoídolo, uma referência na Geologia? Pode até ser alguém que nunca tenha conhecido...

Não, por acaso não. Eu sou um bocadinho terra à terra nessas coisas. Há, obviamente, muita gente que admiro, por fazerem grandes trabalhos, mas um ídolo, não tenho. É claro que há pessoas que durante a minha vida profissional me marcaram e que admiro. Por exemplo, há um colega com quem trabalhei e que pela sua dedicação, ética e, principalmente, pela resiliência que demonstra no trabalho, é o que se pode comparar um bocadinho mais, não digo a um ídolo, mas a uma pessoa por quem tenho alguma admiração, que é o geólogo Carlos Almeida. Tenho mais tendência para admirar as pessoas com quem eu trabalho e com quem eu lido.

"Tenho mais tendência para admirar as pessoas com quem eu trabalho e com quem eu lido."

"(...) gosto muito das campanhas de sondagens: o planeamento, depois a parte da execução, acompanhamento e mesmo as amostragens." 

18. E qual a sua publicação favorita na área das geociências? 

Eu diria as "Comunicações Geológicas" [LNEG], por serem uma publicação nacional e que junta o trabalho dos geólogos portugueses e o que de melhor se foi fazendo em Portugal.

19. E o livro que o pai tinha lá em casa, o atlas?

Sim, se calhar também podia ser esse ["O Grande Atlas Mundial"], porque foi o que despertou a curiosidade e o gosto pela Geologia.

20. Naquilo que é a sua vida profissional, qual é a atividade ou exercício que mais prazer lhe dá?

Além do trabalho de campo, que é a base e que realmente os geólogos de prospecção têm de gostar de fazer, gosto muito das campanhas de sondagens: o planeamento, depois a parte da execução, acompanhamento e mesmo as amostragens. Toda essa fase associada às campanhas de sondagens, confesso que tenho um gostinho especial em preparar e em trabalhar. 

"(...) Jales-Gralheira (...) um projeto, tanto a nível profissional como pessoal, que me ensinou e que me marcou e ao meu trabalho até agora. Teve coisas boas e coisas más, como tudo na vida (...)"

21. Já marcou férias propositadamente para um lugar porque queria ir lá ver algum afloramento, mas ocultou da família o verdadeiro motivo da escolha do destino?

Por acaso não! (riso) Mas claro que, para qualquer sítio que eu vou, está lá sempre o olho voltado para a Geologia, a procurar os afloramentos e qual o enquadramento. Mas de propósito não aconteceu. Ainda! (sorriso)

22. Qual a resposta mais hilariante que recebeu de familiares ou amigos quando à pergunta "que fazes da vida" respondeu "sou geóloga"?

Normalmente é aquele comentário comum e isolado "Ah...", um ato de admiração e de estar à procura [mentalmente] do que é que é, a procurar alguma ligação. (sorriso) Mas talvez a mais caricata foi "Ah, andavas à procura de ossos, não é?", (riso) alguma coisa assim. Há muita confusão com a arqueologia, e esta, se calhar, foi a resposta mais diferente. A verdade é que muita gente também não tem muita noção do que é que um geólogo faz, por isso estas respostas.

23. Conte-nos um evento ou momento marcante na sua carreira, pode ser mais ou menos positivo.

Acho que não há assim um momento específico de uma coisa muito boa ou muito má que tenha acontecido. Mas posso destacar um projeto em que trabalhei, que é o projeto de Jales-Gralheira e que me ensinou muito. Foi numa fase relativamente inicial da minha carreira e foi um projeto, tanto a nível profissional como pessoal, que me ensinou e que me marcou até agora. Teve coisas boas e coisas más, como tudo na vida, mas sem dúvida que me marcou pela experiência que me deu ao longo da sua duração.


Geomanias

Rocha preferida? Migmatito

Mineral preferido? Galena

Fóssil preferido? Trilobite

Unidade litostratigráfica preferida? Terrenos parautóctones

Era, Período, Época ou Idade preferido? Paleozoico 

Trabalho de campo ou de gabinete? Trabalho de campo

Martelo ou microscópio?        Martelo

Amostra de mão ou lâmina delgada?

Amostra de mão

Carta Geológica favorita? Folha 2 da Carta Geológica [escala 1: 200 000] de Portugal.

Pedra mole ou pedra dura? Dura!

Recursos minerais metálicos ou não metálicos? Metálicos

Crosta ou crusta? Crusta


Teaser da Entrevista