Romeu Vieira

Maio 2023









RECURSOS MINERAIS

SÓCIO APG Nº O1032

Natural de Matosinhos, este 'homem da Centro Ibérica' deixou-se seduzir pelas áreas mais aplicadas da Geologia. A Panasqueira foi uma escola. Não tem paciência para ser cientista porque se dissemina mais que as mineralizações. Tem-se dedicado à pesquisa de metais críticos e hoje coordena equipas na prospeção de recursos minerais na Fortescue.

"Acho que foi isso que me diferenciou dos meus colegas que fizeram doutoramento, porque muita gente depois dedicou-se só à área académica e eu não tenho perfil de cientista, também descobri isso. Não tenho paciência para me dedicar ao trabalho exaustivo que é necessário."

Já setembro ia bem lançado quando realizámos a última entrevista para o APG 365 de 2023. Romeu Vieira. Nunca lhe passou pela cabeça ser geólogo e, conhecendo-o, nunca nos passou pela cabeça que não lhe tivesse passado pela cabeça sê-lo. Mas lá voltamos àquela história dos fenómenos geológicos e da importância do acaso na conjugação de fatores perfeita: assim foi a entrada do Romeu na Geologia e na prospeção mineral. Hoje divide-se entre gestão de projetos e equipas e a pesquisa de recursos essenciais às sociedades, mas já fez um pouquinho de tudo e de tudo levou um pouquinho. Com ideias muito claras sobre as melhorias que deveriam ser feitas ao nível da academia para uma melhor formação dos geólogos, deixou-nos muitas dicas para profissionais e futuros profissionais. Aproveitem-nas e venham conhecer este 'homem da Centro Ibérica', que agora soma muitas milhas 'lá em cima no céu', mas que tem saudades de quando as somava 'lá debaixo de terra'. Até porque, uma vez mineiro, para sempre mineiro! 


Entrevista 

Sede da Fortescue, Porto, setembro de 2022


1. Nome, data e local de nascimento?

O meu nome é Romeu Vieira, sou natural de Matosinhos, fui criado em Matosinhos, estudei no Porto e fiz este ano 45 anos. 24 de maio de 1977.

2. Diga-nos, como se fosse para leigos, o que é que faz?

Basicamente, hoje em dia, o meu tempo é dedicado 30% à Geologia, basicamente a coordenar equipas que andam no campo a fazer prospeção de recursos minerais, e 70% é gestão administrativa. Grande parte do meu tempo, hoje, é de gestão e direção de projetos de prospeção e pesquisa de recursos. Toda a minha carreira foi sempre muito focada no que hoje é definido como metais críticos, ou seja, o lítio, tungsténio, o estanho, nunca fugi muito desta área de atuação. Tento, dentro de uma área de greenfield, que pode não ter qualquer tipo de conhecimento, melhorar o conhecimento a nível geológico, sendo que o nosso objetivo é sempre encontrar um alvo para fazer uma prospeção de maior detalhe. Portanto, tentar fazer sondagens, que é o que um geólogo de prospeção, pelo menos numa primeira fase, pretende alcançar.

3. E o Romeu de há 10 anos, o que é que fazia?

Há 10 anos também já estava num papel de direção. Estava nas minas da Panasqueira, que foi uma escola para mim, acho que foi a segunda universidade e que me tornou num melhor geólogo, numa melhor pessoa e é um sítio do qual eu tenho muitas saudades.

4. Quando é que esteve na Panasqueira?

Estive quase cinco anos, entre outubro de 2011 e fevereiro de 2016.

"Porque as minas são finitas e um dia a Panasqueira terá que encerrar, como todas as outras minas acabaram por fazer, mas há ali um património geológico e social, e foi isso que me apaixonou"

5. E entrou para lá como?

Foi uma oportunidade. Havia um colega nosso, que agora retornou também para a Panasqueira, ou pelo menos ao grupo, que é o Jacques [Ribeiro] e que tinha, na altura, saído. E então surgiu a oportunidade para ocupar essa vaga e eu agarrei-a, claro, porque não temos muitas oportunidades. Temos três minas de [recursos] metálicos a operar em Portugal. A Panasqueira é uma empresa com poucos recursos quando comparada, por exemplo, com Neves Corvo, e as equipas são muito reduzidas, as equipas técnicas, digamos assim. E um geólogo na Panasqueira faz de tudo, desde cartografia de fundo, estimação de recursos e reservas a prospeção regional. Ou seja, a Panasqueira obrigou-me a crescer tecnicamente e em termos de responsabilidade, foi uma escola. E depois... o conhecimento adquirido daquelas pessoas. Tive o prazer de trabalhar com pessoas que sempre trabalharam na mina e que foram meus professores: o José Duarte e o sr. Batista, que eram técnicos de topografia e de Geologia e que, para mim, foram as pessoas que se calhar me passaram mais conhecimento. Aprendi muito com eles.

6. Tinham "manha"?

Conheciam a mina. A ciência baseia-se na observação e eles andaram a observar a mina durante décadas, reformaram-se lá e viveram para a mina. E é disso que eu sinto saudades, é a maneira como as pessoas se dedicam à mina, e quando eu digo mina, não é só a operação, é tudo o que está ao redor daquele complexo mineiro, do couto mineiro da Panasqueira, que é muito bonito. E, se calhar, devíamos olhar para aquilo como património nacional e tentar recuperar ao máximo o que ainda está preservado. Porque as minas são finitas e um dia a Panasqueira terá que encerrar, como todas as outras minas acabaram por fazer, mas há ali um património geológico e social e foi isso que me apaixonou. Eu tenho lá muitos e bons amigos e é isso, há 10 anos estava na Panasqueira.

7. Em que ano e onde frequentou o curso de Geologia?

A minha ingressão no curso de Geologia foi feita em 1996, aqui no Porto, mas ainda nos "Leões" [nome da fonte da praça onde se localizava a Faculdade de Ciências], onde hoje é a reitoria da Universidade do Porto. Foi fortuita, ou seja, foi a minha sexta opção. Eu nunca na vida imaginei ser geólogo, é verdade.

8. Qual era a primeira opção?

Na altura estava muito inclinado para as áreas da saúde, medicina e enfermagem. E a minha sexta opção foi Geologia porque, nesse ano, as minhas notas, principalmente a de física, acho, foram muito más e eu pus Geologia em sexto lugar apenas para entrar na faculdade. 

9. Apenas para garantir que entrava?

Eu até me lembro que aquilo foi no dia de escolha na Faculdade de Economia do Porto, onde nós íamos fazer a inscrição. Estava com duas colegas da escola secundária, uma que depois foi minha colega de curso aqui no Porto em Geologia, e eu disse "Eh, pá, não sei o que é que hei de por aqui na sexta opção". E elas "Ah, põe Geologia, pelo menos ficas connosco". E pronto.

10. Foi esse o verdadeiro motivo… (desilusão trocista)

Nunca na vida tinha tido interesse algum por Geologia.

"Comecei a ver a aplicação da Geologia e comecei a pensar "Eh pá, isto é interessante. Há aqui uma coisa que me atrai, que me seduz"

11. Qual foi o sentimento quando só entraste na tua sexta opção?

Bom, eu era um bocado imaturo na altura. Aquilo que eu queria era entrar na universidade, aquilo que eu queria era a vida académica. Os meus três primeiros anos de universidade foram vida académica.

12. Dê-nos exemplos.

Estive na Federação Académica do Porto, na Associação da Faculdade de Ciências do Porto. Sim, eu, basicamente, de 24 cadeiras, em três anos só fiz nove. Isso demonstra o meu rácio de dedicação à Geologia. Depois, acho que ganhei maturidade.

13. O que é que o fez agarrar-se ao curso?

Foram as cadeiras técnicas, ali a partir do terceiro ano. Foi quando comecei a ver a aplicação da ciência à prática. E eu lembro-me da Geologia de engenharia, por exemplo, que era uma das cadeiras em que me lembro de me ter dado ali um clique. Depois em prospeção, prospeção geofísica e prospeção mineira. Comecei a ver a aplicação da Geologia e comecei a pensar "Eh pá, isto é interessante. Há aqui uma coisa que me atrai, que me seduz, a descoberta". Eu sou uma pessoa que se cansa muito, ou seja, não sou muito rotineiro, não consigo estar sempre a fazer a mesma coisa durante o dia, tenho que planear as minhas tarefas para não cair no aborrecimento. E foi assim desde toda a vida, desde o secundário, no desporto, eu pratiquei 1001 desportos e depois perdia o interesse. E com a Geologia vi que havia ali o facto de poder variar: estudar um dia uma mineralização ou um contexto geológico diferente e aplicar depois o conhecimento em diferentes áreas. Porque a Geologia tem essa vantagem, é muito ampla nos campos em que podemos atuar, pelo menos no início da carreira isso é muito comum. Eu fiz Geologia de engenharia, fiz risco geológico, fiz prospeção. Foi mais ou menos no meu terceiro ou quarto ano.

14. A partir daí começou a ter interesse em acabar o curso?

Não, foi aí que eu aprendi a gostar da Geologia. Os primeiros anos são sempre aquelas cadeiras mais de base, propedêuticas, de caráter geral, e depois a vida académica é muito atraente, com muita festa, muitos amigos. Tenho muitos amigos. 

15. Para além da vida académica, o que é que tomava o seu tempo?

Os amigos, principalmente os amigos. Desenvolvi muitas amizades. Os meus melhores amigos, ou seja, os mais fortes, aqueles que preservo ainda hoje, são todos desse período. E depois há uma vantagem, que foi o facto de ter passado muitos anos, eu acho que foi uma década, na Universidade do Porto, primeiro na licenciatura e depois no doutoramento. Isso fez com que eu me cruzasse com muitas gerações de colegas que hoje, alguns deles, são amigos. Eu tenho amigos que entraram na faculdade já eu estava no meu quinto ou sexto ano.

16. Quem, por exemplo?

O Carlos Almeida, que é uma personagem. Nós tratávamo-lo por "Contumil", porque ele vem de um bairro aqui muito próximo com esse nome. Ninguém o conhece por Carlos Almeida, é por "Contumil", pelo menos pelos amigos mais próximos.

"estou a trabalhar muito bem. Tarde, mas bem"  

17. Ele isso não nos contou…

(irónico) É, ele é uma pessoa muito recatada quando lhe interessa. Temos outros colegas, como o John Morris também.

18. E assim do seu ano, alguém próximo?

Do meu ano, alguém que eu preservo… (pensativo) esta pergunta, agora apanhaste-me aqui nas curvas. Do meu ano, a Mónica Sousa, que está um bocadinho mais dedicada à APG- Temos que lhe dar esse crédito, porque ela tem dedicado muito do seu tempo a todos nós, é muito importante!

19. Alguém de outra área, como da geotecnia?

Da geotecnia, sim, o Filipe Sequeira, por acaso falei com ele na semana passada, está na EDP. O Filipe era de 2000, por aí. É que eu tenho muito amigos de diversos anos. Tenho muitos amigos que estão a trabalhar no exterior, em Angola, Malawi, Canadá… Há a Tânia Martins, que era uma boa pessoa [para entrar no calendário]. Aliás, era um bom desafio convidarem o pessoal que está expatriado. Temos muitos colegas expatriados e eu, felizmente, nunca tive essa necessidade. Tive sempre a possibilidade de ficar a trabalhar por perto. Perto de casa não, porque eu faço fly in, fly out todos os fins de semana, porque eu vivo na Madeira. Mas estamos sempre em Portugal, o que é diferente, estou sempre perto.

20. Se fosse nos Açores, já era pior.

Sim, sim. E tenho também a possibilidade de ficar sempre muito próximo do meu pai e da minha irmã. Ou seja, eu durante o fim de semana estou com a minha mulher, com a minha filha, e, em breve, com a minha futura filha, porque vou ser pai outra vez em novembro.

21. Parabéns!

(sorrindo) Obrigado, estou a trabalhar muito bem. Tarde, mas bem. Depois, durante a semana, tenho a felicidade de estar com o meu pai. Ou seja, eu fico em casa do meu pai, no meu quarto da juventude.

22. Ou seja, pode disfrutar também dessa parte… e, sobretudo, dormir as noites descansado. (risos)

(em tom jocoso) Sim, isso é a deixa da minha esposa. Diz que quando eu estou cá, estou de férias. Sim, mas é, eu tenho essa felicidade também. Tenho uma sogra muito boa, que me ajuda muito, por isso, tenho que lhe dar esse crédito. 

"ou o meu avô, se calhar era a ligação mais próxima que [tinha à Geologia] que era canteiro de obras"

23. Passando agora à sua família, os seus pais: quando perceberam que tinha entrado em Geologia, qual foi a reação deles, o que é que eles disseram?

O curso na altura era de cinco anos, eu terminei em seis, ou seja, consegui recuperar. Depois também consegui utilizar um bocadinho os benefícios de ter sido dirigente académico, pois podia ter ali algumas épocas especiais para fazer alguns exames. Mas os meus pais sempre me deram liberdade. Eu e a minha irmã pudemos fazer o que queríamos, tínhamos era que ser responsáveis. Acho que foi isso que depois me trouxe a responsabilidade, lá pensei "Os meus pais confiam em mim e eu ando aqui um bocadinho a brincar com isto tudo... deixa-me crescer!". Os meus pais, a minha mãe também, mas principalmente o meu pai, sempre nos apoiou.

24. Mas eles sabiam o que era Geologia?

(sorrindo) Nunca na vida. A coisa mais próxima que a gente tinha de Geologia em casa era quando íamos apanhar batatas ao campo do meu avô, que era a coisa mais próxima da terra que tínhamos. De resto, o meu pai era sócio de uma empresa na área da metalurgia e a minha mãe trabalhava na área dos têxteis, ou seja, não tínhamos qualquer ligação… O meu avô, se calhar, era a ligação mais próxima que tinha, que era canteiro de obras, trabalhava a pedra aqui para a Câmara Municipal do Porto. A Geologia apareceu, foi fortuito, nunca na vida pensei ser geólogo, e tudo começou no dia em que fui fazer a inscrição: vou por aqui Geologia. E depois aprendi a gostar.

25. Reagiram bem, então.

Sim, porque a deceção já era conhecida. A deceção das notas para entrar na área da saúde já tinha sido conhecida quando as recebi. O plano também era um bocado, nesse ano, aproveitar para fazer melhorias e tentar candidatar-me no ano a seguir. Só que eu depois, com a vida académica, nunca mais recuperei. E fui apanhado pela Geologia. Hoje acho que nós somos muitas vezes guiados para o nosso futuro e o meu futuro foi fortuito. Eu nunca imaginei que profissionalmente iria ter o sucesso que eu hoje acho que tenho e sinto-me totalmente realizado. Se me reformasse hpje, sentir-me-ia completamente realizado. E, se calhar, até por uma questão familiar, no futuro, quando um dia acabar o projeto que agora estou a liderar em Portugal.... ir para casa, ao fim de algumas décadas. (sorrindo) Há muitas décadas que não estou em casa. Isso também custa um bocadinho. E a minha filha agora já começa a cobrar. Já não me dá beijinhos no aeroporto, já começa a custar.

26. É duro…

Sim, mas depois tenho aqui amigos muito bons.

27. Mas isto hoje em dia até se leva de outra forma, tivemos várias gerações a viver longe de casa.

Não, eu sou um felizardo. Na nossa área da prospeção de recursos minerais, e tendo em conta o panorama nacional, podia estar em condições muito piores. E com situações mais precárias, que muitas vezes também temos na nossa área. Mas sim, sou um felizardo. Nesse aspeto tive muita sorte. Muita sorte mesmo.

28. E a filhota, talvez ressinta um pouco as ausências, não?

(anuindo) Mas já quer ser Geóloga, é verdade. Olha para as pedras e traz as pedras, mas acho que os miúdos são assim curiosos. Aquela coisa de apanhar e trazer pedras, acho que é uma coisa muito humana, uma conexão com a terra, com as nossas raízes.

29. E flores também, não?

Sim, também. Para já ainda não me vai aos pássaros.

30. Mas a Madeira, também, tem menos geodiversidade.

É, é um bocado monótono.

31. (risos) E um pouco jovem para os nossos gostos... 

Sim. E com poucos recursos minerais conhecidos. 

"Comecei logo a trabalhar em 2000, ou seja, são 17 anos de lítio e cinco de tungsténio"

32. Há pouco falámos em prospeção, geofísica, mas consegue identificar uma dessas disciplinas de terceiro ou quarto ano que tenha gostado mais?

Sim, Geologia de engenharia e prospeção mineira.

33. Quem é que dava essas cadeiras?

Geologia de engenharia era a professora Isabel Fernandes, com quem eu me dou muito bem. Depois mais tarde, perto do final do meu doutoramento, ali no meu quinto ou sexto ano, acabei por cooperar com ela em alguns projetos que a faculdade aqui do Porto estava a fazer: um anteprojeto para a EDP com ela e com a doutora Maria dos Anjos [Ribeiro]. Na altura, e já no final da licenciatura, por volta de 2000-2001, houve um momento muito rico em termos de atribuição de bolsas e fundos [comunitários] em Portugal, havia muitos projetos. E a maneira como nós escolhíamos o projeto de quarto e quinto ano era através de uma tabela onde eram anunciados uma série de projetos de final de curso. A seleção era feita pela classificação curricular. E eu e uma colega, a Tânia, que está agora no Canadá, éramos dos que tínhamos as melhores notas e tivemos a oportunidade de escolher os projetos. Eu estava inclinado para escolher o da doutora Isabel Fernandes, mesmo muito inclinado, mas ali à última da hora houve uma abordagem do Alexandre Lima, que me disse "Eh pá, pensa bem, que eu tenho aqui um projeto muito interessante que se vai prolongar durante dois ou três anos, para fazer prospeção mineira". Que foi bom, porque eu também comecei a pensar no meu futuro profissional, ou seja, apesar da Geologia de engenharia ser talvez a área que empregava mais gente naquele momento – e ainda hoje é –  houve ali qualquer coisa no Alexandre que me cativou, a mim e à Tânia, e ele basicamente surripiou-nos da Geologia de engenharia. São os tais momentos que acabam por nos guiar e que nós não controlamos.

34. Levou-o logo para o lítio.

Foi, levou-me para o lítio. Comecei logo a trabalhar em 2000, ou seja, são 17 anos de lítio e 5 de tungsténio, basicamente. A partir daí, trabalhei muitos anos com o Alexandre, ainda hoje trabalho, temos agora um estudante de mestrado do Alexandre connosco [na Fortescue], no nosso projeto. 

"Entre 2004 e 2010 estive a fazer doutoramento na área de prospeção de pegmatitos litiníferos. Mas sempre a trabalhar, ou seja, durante o meu doutoramento sempre prestei serviços como consultor em empresas"

35. O Alexandre tem sempre muitos projetos e alunos.

Sim, sim, nesse aspeto, o Alexandre foi sempre muito ativo, sempre conseguiu envolver muita gente nos projetos dele.

36. E foi sempre pago?

Sempre. Foi sempre pago. Era um estágio curricular, ou seja, nós no quarto ano, no segundo semestre, tínhamos projeto, que, no nosso caso, estava incluído nesse projeto de investigação: "A aplicação de fundentes litiníferos na indústria cerâmica e vidreira". O projeto decorreu durante cerca de três anos, era um projeto FCT, e nós éramos bolseiros de investigação. Aquilo inicialmente durou seis meses, mas depois, no quinto ano, tivemos o estágio profissional, que na altura era opcional, mas quase toda a gente fazia, principalmente quem ia para a área científica. E aí, na altura, havia um fundo do IFP, os tais estágios profissionais remunerados, e nós entrámos com esses estágios. Durante 2001-2002 fui novamente bolseiro de investigação desse projeto. Candidatei-me à bolsa de doutoramento da FCT em 2003, não consegui, e fiquei um ano a fazer o segundo ano curricular do mestrado de prospeção mineira. No fim desse ano de 2003-2004, candidatei-me outra vez à bolsa FCT e foi-me atribuída. Entre 2004 e 2010 estive a fazer doutoramento na área de prospeção de pegmatitos litiníferos. Mas sempre a trabalhar, ou seja, durante o meu doutoramento sempre prestei serviços como consultor em empresas. Acho que foi isso que me diferenciou dos meus colegas que fizeram doutoramento, porque muita gente depois dedicou-se só à área académica e eu não tenho perfil de cientista, também descobri isso. Não tenho paciência para me dedicar ao trabalho exaustivo que é necessário. Não tenho, descobri isso também.

37. Começou por dizer que não consegue reter a sua atenção muito tempo num objeto...

(anuindo) Disperso-me. O doutoramento, ali a um dado momento, também derrapou um bocadinho... e também tenho que agradecer à minha coorientadora, tenho que lhe agradecer muito, que foi a Encarnación [Roda] Robles.

39. Pois é, quem foram os seus orientadores?

Os meus orientadores foram o Alexandre Lima e a Encarnación Robles. O meu doutoramento foi feito em Portugal e Espanha, ou seja, abrangia uma zona transfronteiriça, que é ali entre Almendra [Guarda] e Fregeneda [Salamanca]. Passei muitos meses também em Bilbao a fazer a petrografia, microssonda...

40. Vida académica?!

Vida académica lá, nem tanto. Lá eu portei-me muito bem. Eu, a partir de um certo momento, encarrilei. A partir de um certo momento transformei-me e dediquei-me a sério. Também tenho essa qualidade, quando me dedico a uma coisa, também me consigo dedicar a 100%. 

"(...) os primeiros trabalhos foi a fazer cartografia e recolha de águas e amostras nas escombreiras de minas abandonadas no nordeste transmontano (...)"

41. Nesse sentido, e ainda que naqueles primeiros anos se tenha fascinado pela vida académica, no final, considerava-se um aluno médio, bom ou muito bom?

Bom. É, um bom aluno. Consegui terminar a minha licenciatura, mesmo com aquelas más notas dos primeiros anos, com uma média de 15 valores, o que é bom.

42. Ou seja, fê-lo pensar…

(sorrindo) Fez, fez. Mas arrependo-me zero, porque conheci muita gente, faz parte da nosso crescimento. Uma das coisas muito importantes é a relação humana e eu aprendi muito durante esse período, fiz muitos amigos para a vida e ainda hoje mantemos essa ligação, a partilha que se calhar falta num grupo mais abrangente entre colegas. Nós, neste núcleo, partilhamos muita coisa, também porque unidos somos mais fortes e reconhecemos isso. Não somos uma empresa, mas muitas vezes funcionamos como uma empresa quando há oportunidades de emprego e trabalhamos em grupo.

43. Nos seus tempos universitários, para além da vida académica, envolvia-se noutras atividades? 

Sim, mas isso para mim fazia parte de nossa rotina aqui no Departamento de Geologia. Nós éramos muitos envolvidos nisso. Nas primeiras edições da Semana da Ciência e da Tecnologia, em que as escolas vinham visitar a Universidade, as atividades foram organizadas dentro do departamento pelos alunos. E também me envolvia muito no que era, na altura, com a Doutora Helena Couto, o Parque Paleozoico de Valongo, que agora são as serras do Porto. Isso também me ajudou a ganhar interesse pela Geologia. Às quartas-feiras fazíamos de guias e fazíamos lá os percursos/roteiros para as escolas. E aquilo começou-me a cativar. Ou seja, claro que existiram vários triggers, foram vários os gatilhos que me despertaram para a Geologia. 

44. Portanto, foi muito além das unidades curriculares...

Sim, visto assim, foi esse envolvimento com estas atividades, porque a um dado momento começou-me a cativar a questão da transferência de conhecimento, isto é, a dado momento eu ponderei apostar na carreira académica como docente, porque começou-me a fascinar essa parte, mas durou três ou quatro anos. Depois perdi um bocadinho... talvez peço facto de, na altura, termos muitos professores convidados. Nós tínhamos pessoas convidadas que, na fase final da nossa licenciatura e no primeiro ano curricular do mestrado, vinham dar aulas. Eram muitos os professores convidados da área profissional. E o discurso era diferente, era mais prático, com mais exemplos em que nos mostravam as oportunidades. Tanto que o meu primeiro trabalho profissional fora do meio académico foi com o Doutor Pedro Carvalho, que foi responsável pela recuperação do couto mineiro do Lousal e que trabalhava na altura para a EDM, ou EXMIN, que agora é a EDM. E os primeiros trabalhos foram a fazer cartografia e recolha de águas e amostras nas escombreiras de minas abandonadas no nordeste transmontano. Foi esse o meu primeiro trabalho. Essa ligação, o trazer alguém de fora da academia, para desenvolver essa ligação com os alunos, também é importante desse ponto de vista, porque permite estabelecer ligações profissionais. Infelizmente, aqui no Porto, houve um período, não sei se hoje em dia isso ainda acontece ou não, em que os convidados desapareceram, a ligação ao mundo profissional fazia-se só através dos estágios, e acho que é muito, muito importante manter essa ligação com os ex-alunos, porque nós todos somos ex-alunos destes departamentos, destas universidades, e perdeu-se um bocadinho isso.

45. Também houve uma retração grande durante a crise, não houve?

Sim. Lembro-me de uma diretriz que saiu entre 2002 e 2004. Nós tínhamos muitos professores que não tinham finalizado o grau académico de doutoramento e, a partir daí, foi obrigatório. Ou seja, apesar de se ter dado a oportunidade de terminar, houve muitos que acabaram por não o fazer, porque também tinham vidas profissionais para além da académica e, muitas vezes, perderam-se bons professores.

46. Não é o grau de doutoramento que confere essa competência...

"Sabe mais o andante que o estudante", como se costuma dizer. Principalmente numa ciência que se baseia muito na observação, a nossa ciência base é observar.

47. Portanto, perdeu-se também experiência com a saída desses professores?

Sim, sim. Acho que se devia ter feito de outra maneira. Eu acho que é isso que a Academia devia tentar reparar. Os primeiros anos muito dedicados à parte mais clássica, mais científica, mas naquelas fases mais finais, tentar trazer de volta uma componente aplicada mais ligada às empresas.

48. A questão é: como é que se faz isso com licenciaturas de três anos?

Claro. Eu acho que é muito difícil uma empresa contratar um geólogo só com três anos. Eu, quando tenho de olhar para um currículo, se for um aluno só com três anos de licenciatura… (esgar de dúvida)

49. Porque sabe que, à partida, vais dar muito mais trabalho...

Muito mais trabalho. Isso, infelizmente, obriga a que um profissional na nossa área tenha que fazer obrigatoriamente um mestrado. Se não o fizer, vai ter sempre um handicap relativamente aos colegas ou aos seus pares que o têm.

50. Portanto, esta é uma mensagem que deixa aos jovens geólogos?

Nenhuma empresa olha para um currículo e fica indiferente, conhecendo a rapidez com se licenciam e que nós em Geologia temos conceitos muito complexos, muitos que só ficam maduros ao fim, se calhar, de uma década, em três anos é impossível. E depois vai dar muito mais trabalho à entidade empregadora, quando esta pode, no mesmo mercado, encontrar um colega que tem mestrado. Mas tudo se aprende. Isso também é uma coisa que eu aprendi na minha vida profissional. 

"não é o facto de ter um doutoramento que faz de mim melhor ou pior geólogo que outros colegas, mas pelo menos há ali uma capacidade científica que está demonstrada"  

51. Vou fazer outra questão relacionada com isto, porque o Romeu também é doutorado. Então e colegas com doutoramento? Se lhe aparecer alguém com doutoramento, quando está num processo de recrutamento, como é que olha para esse currículo?

Eu sou doutorado e fui contratado como doutorado. Mas também tive sempre aquela predisposição para fazer e desenvolver trabalhos na área profissional aplicada, mesmo enquanto estava a fazer doutoramento. Por isso é que demorei seis anos para fazer o doutoramento em vez de quatro. Mas tento-os integrar ao máximo. Neste momento, na nossa equipa, temos uma doutorada, uma colega que recusou uma bolsa de doutoramento para vir trabalhar connosco e um colega que recusou outra bolsa de doutoramento para vir trabalhar connosco. O conhecimento não se mede pelo doutoramento, ou seja, não é o facto de ter um doutoramento que faz de mim melhor ou pior geólogo que outros colegas, mas pelo menos há ali uma capacidade científica que está demonstrada.

52. E qual é a disponibilidade do mercado olhar para eles, para quem se está a doutorar na área de recursos minerais?

Eu acho que é total.

53. Por vezes não há aquele preconceito, por eles estarem muito focados num tema muito restrito? Ou isso é, até, uma mais-valia?

Não. Eu acho que é uma mais-valia, porque demonstra essas capacidades, ou seja, uma capacidade crítica, de análise, de organização, de geração de ideias, que não quer dizer que uma pessoa só com mestrado não tenha, ou uma pessoa com licenciatura não tenha, mas aquela pessoa demonstrou. Eu, se puder contratar os melhores, quero contratar os melhores. Não tenho a mínima dúvida, mesmo que nós depois cometamos erros. Não é o currículo que o demonstra. Claro que nós na prospeção tentamos procurar perfis orientados para a prospeção, mas, por exemplo, eu trabalhei dois anos como consultor na área de Geologia de engenharia e aprendi muitas coisas que trouxe depois para a prospeção. Tornei-me um craque de Autocad por causa da Geologia de engenharia e depois isso deu-me muito jeito na Panasqueira, em que todos os recursos, na altura, eram calculados usando Autocad. Era tudo feito em 2D, não havia 3D e se calhar ainda não há, por isso deu-me muito jeito e melhorámos muito o processo de estimação do recurso. Ou seja, nós ganhamos conhecimento em todas as áreas em que trabalhamos. Eu hoje aplico muitos conhecimentos, até de risco geológico, pois trabalhei um ano na sequência do aluvião de 2010 na Madeira, no plano municipal de emergência do Funchal, e adorei. E se hoje domino alguma da nomenclatura de risco e de perigo é por causa dessa minha experiência.

54. E foi lá que conheceu a sua mulher?

Não. A minha mulher é amiga da minha irmã, elas estudaram aqui no Porto. (sorrindo) Ela começou a frequentar a nossa casa e eu achei piada ao sotaque madeirense. Foi o sotaque, é sempre o sotaque. Mas sim, conheci-a no Porto, ela estudou medicina aqui.

55. Então a mulher tem aquela profissão que é a profissão frustrada do marido...

É... e a minha irmã também, ela também é médica.

56. E a irmã, é mais nova ou mais velha?

É mais nova do que eu oito anos. Mas não, nunca, mas nunca fiquei frustrado. É engraçado que ainda este fim de semana eu estava a dizer que vinha fazer esta entrevista e mostrei-lhe o vídeo do professor António Ribeiro. E a dado momento vem a questão "Então e porque é que foi para a Geologia?" e ela dperguntou-me "O que é que tu vais dizer? Vais dizer que querias ir para a área de saúde?". Não tenho qualquer problema com isso, tanto que elas dizem "Tu nunca irias ter perfil para esta profissão". Eu acho que na altura era um bocado encantamento familiar.

57. Mesmo em termos de horários, a área da saúde é muito exigente.

A minha mulher é anestesista e, principalmente na Madeira, tem muito poucos recursos dessa área em particular... Eu acho até que é um perigo social trabalhar assim. 

"Muitas vezes o geólogo, em termos de remuneração, recebe sempre um pouco menos do que o colega de engenharia, estando ele a fazer o mesmo tipo de trabalho"

58. E frustra imenso os profissionais, não?

A minha mulher não, porque ela adora aquilo que faz. A minha mulher sempre quis trabalhar em ambiente hospitalar. Mas eu não concebo como é que obrigam profissionais de saúde a fazer de cinco em cinco dias bancos de 24 horas seguidas, conscientemente. E depois, no dia a seguir não estão de folga, estão de prevenção! Ou seja, há uma falta de recursos. Depois é o cansaço acumulado, o burnout.

59. E as remunerações?

Eles para terem uma boa remuneração têm que trabalhar muitas horas, porque o salário base não é grande coisa. Que é outra coisa má também na nossa área. As empresas não remuneram devidamente os seus profissionais em Portugal.

60. Mas isso é transversal.

É transversal. A bitola salarial está muito baixa para a responsabilidade, a qual é cada vez maior. Cada vez temos mais colegas que são diretores técnicos, são técnicos com cédulas de explosivos, por exemplo, e muitas vezes não são remunerados convenientemente, até muitas vezes quando são comparados com pares, com as mesmas responsabilidades, podemos falar de um engenheiro de minas ou de um engenheiro geotécnico. Muitas vezes o Geólogo, em termos de remuneração, recebe sempre um pouco menos do que o colega de engenharia, estando ele a fazer o mesmo tipo de trabalho. Estamos a falar de trabalho, por exemplo, de diretor técnico de uma pedreira de massas minerais, e isso é algo que nós deveríamos, como grupo, tentar mudar. 

61. Aí já começamos a entrar um bocadinho na área de atuação da APG...

Eu acho que não é só a APG. Eu acho que somos nós, individualmente. Primeiro acho que tem de ser o indivíduo. Eu acho que nós, como indivíduos, temos de reconhecer que juntos somos mais fortes. E a questão de criarmos uma associação, por muito que possa parecer que ela faz pouco, porque é esse o primeiro comentário, "Ah, vou estar a pagar uma quota, mas depois não se vê nada". Mas quantos menos formos, menos a associação vai fazer, se formos mais, a associação vai fazer mais. E uma das valências da APG é a tentativa de reconhecimento técnico, nomeadamente através da atribuição do título de geólogo europeu, de eurogeólogo, e isso, parecendo que não, tem vindo a fomentar o associativismo e a atrair muitos geólogos, pois irá ser uma exigência regulamentar. O novo diploma já exige, por exemplo, que os recursos minerais e reservas minerais sejam reportados de acordo com normas internacionais. E essas normas só podem ser coordenadas, e o projeto idem, por uma pessoa que tenha esse título. Ou seja, essa ação da Associação Portuguesa de Geólogos começa a ter algum impacto profissional. E tem valências não só nacionais como internacionais. Com este título, consigo assinar um JORC [o código da indústria mineral para reportar resultados, recursos e reservas minerais].

"Não há uma preparação para o profissional não académico"

62. É equivalente ao chartered do Reino Unido, não?

É, são equivalentes, estão todos debaixo do mesmo chapéu, que é o CRIRSCO [Committee for mineral reserves, international reporting standards].

63. Que está correto, concorda, não? Ter de demonstrar que já se tem determinadas competências técnicas.

Sim, claro. É como termos a carta de condução, se calhar todos conseguimos conduzir mas precisamos de um título para conduzir. Não quer dizer que, se eu for fazer a estimação de um recurso mineral ou coordenar um projeto, que seja melhor que outro colega que não tenha, mas temos que ter regras e temos que ter, principalmente, um meio para procurar responsabilidade quando algum ato indevido ocorre. Se eu tiver um colega que tem uma prática menos profissional, tenho que ter um mecanismo que o penalize. Nós somos os primeiros polícias uns dos outros porque, não sendo uma perseguição, temos que elevar a fasquia e responsabilizar quando as coisas são mal feitas e parabenizar quando são bem feitas.

64. Voltando à questão dos salários, muitas das empresas que operam na área da Geologia são de pequena dimensão, e logo os salários são discutidos consoante as suas capacidades e individualmente.

É uma cultura que tem de se inverter. Existem empresas familiares, mas é uma questão de organização. Ou seja, pode ser até com uma associação, todos os associados que estivessem inscritos terem um pouco a coragem, e eu sei que é difícil - às vezes temos que pensar na nossa família, no pagamento de contas ao fim do mês e temos que nos sujeitar, é mesmo isso - mas os colegas que estão numa posição mais favorável, começarem a tomar posições, dizer "Não, é isto que eu quero! Se não quiser, pode procurar outra pessoa". Que se utilizasse uma guia [tabela remuneratória] e que todos nós a usássemos quando estivéssemos a discutir o payrol com os nossos empregadores. Nós temos essa carta feita e atualizada na APG, acho que ela até está pública. Está muito focada no que é, se calhar, a área de prospeção mineral, mais para trabalhos de consultoria, trabalhos temporários, mas depois também se pode fazer um paralelismo com trabalho sem termo.

65. Isso é de facto importante. E uma forma da APG mostrar que se preocupa com todos.

Sim, é um pouco aquilo da nossa conversa ao início, que é o facto de nós termos de cooperar uns com os outros. E uma coisa que sempre me fez confusão é a academia nunca cooperar, seja o Porto, Lisboa, Coimbra ou Braga, não se organizam e não se juntam. Por exemplo, fazerem um cluster da Geologia académica para tentar defender o profissional que vai ser sair dali no fim da licenciatura. E eu falo pela minha experiência, acho que durante muito tempo focaram-se no que era a vida académica e esqueceram um bocadinho aquilo que era a vida não académica de um profissional da Geologia, seja ela geotecnia ou o que for. Não há uma preparação para o profissional não académico, não científico.

66. Mas será que essa competência cabe ao professor universitário? O professor deve ensinar, transmitir conhecimentos e fomentar a aquisição de competências. Mas depois a transição para o meio empresarial, será que é da sua competência?

Pode não ser especificamente do professor de Geologia geral, ou outro professor. Mas se contratarem alguém da faculdade de economia da própria universidade para lecionar uma cadeira de finanças para não financeiros... Nem precisam contratar mais ninguém, têm é que abrir as portas ou trazer alguém de fora.  

67. Pois, quem pode vir dar esse apoio são os Geólogos que estão nas empresas, como é feito em outras áreas, que são os profissionais que vêm dar aulas como convidados.

Claro, é isso. Eu não quero que seja o professor de estratigrafia que venha dar aulas de finanças. Eu quero é que uma pessoa que perceba de finanças venha explicar o que é que é um rate of interest, o que é um EBITDA, muitos indicativos financeiros que nós quando estamos a avaliar um projeto temos de considerar. O que é, uma coisa básica que hoje em dia nós temos que começar a trazer para os programas, a higiene e segurança no ambiente de trabalho? Ou seja, temos de ter uma cadeira que nos prepare para isso. Temos de ter bases para depois, quando precisarmos de alguma coisa, saber onde procurar. É que esse é o discurso da Academia clássica, que estão ali para dar a Geologia clássica. Mas a realidade é que quando tu olhas para outras universidades a nível mundial, a realidade não é assim. E muitas universidades a nível mundial tornam-se uma referência por causa disso, da forma como preparam os profissionais. E depois esses perfis são mais interessantes, eu se for olhar para um perfil que me apareça aqui que diga assim, "Eu tenho experiência em engenharia de segurança, depois fui fazer uma pós-graduação ou um curso técnico, mas tive uma cadeira de geologia económica, de governança, de comunidades...", tudo isso é uma mais-valia. Se toda a gente chegar aqui com um currículo que diz "Eu estudei aqui, estive numa bolsa de investigação no projeto xpto que estudou a Geologia ou o complexo xisto-grauváquico"... É que depois andam décadas em projetos que duram quatro ou cinco anos, todos estudam ali a mesma área e os alunos têm quase todos com o mesmo perfil ou muito idêntico. Não há ali nada que os distinga. 

"Do meu grupo de amigos mais próximos, dessas gerações com que me fui cruzando, se calhar só um ou dois é que não estão a trabalhar na área da Geologia. Mas eu diria que 50% está tudo expatriado"

68. Ou seja, precisamos de mais cadeiras opcionais.

Sim. Mas acho que devia haver uma lista já preparada, seja um grupo de três, quatro ou cinco cadeiras opcionais, em que o professor, por exemplo, do grupo dos recursos minerais, dissesse, "Estas são as opcionais que quem quiser eleger a área dos recursos minerais tem que escolher". Enquanto se olhar para a academia como números... Porque os números também decidem o futuro dos professores que estão nestes departamentos. O número de alunos que entra é o mais significativo e, muitas vezes, o número de alunos que sai para o mercado não é tão contabilizado. Devia ser mais contabilizado. Isso é que mostra o sucesso daquela licenciatura, é os que saem, não os que entram. E como é que saem! Porque se eu quiser fazer salsicha, meter carne, mas depois não sai salsicha, no fim não me adianta nada estar a investir. Por exemplo, no meu ano entraram 54 alunos, no fim, se calhar, éramos 20.

69. E desses, quantos é que hoje estão a trabalhar em Geologia? Trabalhar em Geologia é uma sorte...

Talvez ainda sejamos bastantes, sim. É uma sorte! Eu acho que é por períodos. Lá está, é sorte. E as políticas. Do meu grupo de amigos mais próximos, dessas gerações com que me fui cruzando, se calhar só um ou dois é que não estão a trabalhar na área da Geologia. Mas eu diria que 50% está tudo a trabalhar expatriado [no estrangeiro], no oil and gas, em África. Na área de prospeção, de recursos geológicos, sim, tiveram de sair. A nossa Geologia é diversificada, mas também não temos assim depósitos de classe mundial, temos depósitos interessantes, mas não são de classe mundial. (sorrindo) Esta é minha opinião, pode haver opiniões diferentes. Mas não temos, nem em termos de dimensão, nem de produção. Mas temos coisas interessantes, o que faz com que empresas como aquela que eu represento agora possam ter pelo menos o interesse de avaliar se há potencial ou não. Temos é que desbloquear o aprofundamento desse conhecimento.

70. Então, mas Neves Corvo não é de classe mundial? A Faixa Piritosa?

Neves Corvo, não. A faixa, sim. O projeto de Neves Corvo não aparece nos 20 maiores produtores de cobre a nível mundial. Pelo menos, da última vez que eu fui ver, não aparecia. É interessante, é muito importante para nós portugueses, é um projeto de referência nosso, mas temos de ser humildes. Se calhar é dos mais interessantes a nível europeu, mas quando comparados com os andinos… Mas aquela zona é interessante, claro, é onde temos um maior potencial, se calhar, para encontrar um novo projeto que possa arrancar. E tem dado muito ao país, à Geologia, a muitos colegas que têm lá emprego e à economia local. 

71. Voltando aqui um pouco ao guião… quem é o seu geoídolo? Quem é assim a sua referência?

Vou-vos ser muito sincero, eu não tenho. Não tenho em nada. Tenho pessoas que foram importantes na minha carreira, isso tenho.

72. Mas não há assim ninguém que trabalhe na sua área que admire mais? Que tenha imenso prazer a ouvir ou a ler o que escreve?

Ah, isso tenho! Por exemplo, uma referência na área dos pegmatitos. Há muita gente que fala do [David] London, mas para mim quem o é, é o Petr Černý. Foi, se calhar, o pai da classificação dos pegmatitos a nível mundial. A maneira como nós hoje os classificamos, estruturamos geoquimicamente, estruturalmente e geograficamente advém do trabalho que ele fez. Ele era checo, mas desenvolveu grande parte do trabalho no Canadá. E é uma referência para quem trabalha na área dos pegmatitos. Em termos de leitura, é uma referência para quem trabalha nesta área. Em termos de prospeção, há muita gente a trabalhar neste ramo, é muito difícil escolher um. Nós vamos beber muita informação de diversas fontes. Hoje em dia, é muito difícil termos um livro de referência, porque a quantidade de informação que nos chega é tanta, de tanta gente, é tão dispersa, e muitas vezes temos que separar o trigo do joio, o que é bom do que é mau. Acho que não tenho assim um geoídolo. Profissionalmente, tenho pessoas que me marcaram na prospeção e na academia. Agora de leituras, não tenho. 

73. Então e desses, quem é que o marcou assim?

Em termos profissionais, o Alexandre Lima e a minha co-orientadora, a Encarnación Robles, que foram relevantes por diferentes aspetos. O Alexandre Lima porque fui o primeiro aluno de doutoramento dele, também tenho essa ligação umbilical, fui eu e a Tânia, ou seja, também o ajudei a ser melhor orientador, acho. Cientificamente, a Encarnación. O meu grande pulo científico. Em termos de prospeção, a mina da Panasqueira foi muito importante para mim, foi a minha escola, principalmente pelas pessoas que estavam lá na mina. Já falei em dois nomes, o Sr. Batista da topografia e o Sr. Duarte que era o técnico da Geologia, que se cruzou com muitos profissionais, como o Décio Thadeu e a professora Ana Antão do IPG, que, se não me engano, foi das primeiras eurogeólogas portuguesas e foi geóloga, durante muito tempo, nas minas da Panasqueira. E, mais recentemente, o Ian Groves, pela dedicação profissional, pela maneira como trabalhava, muito dinâmica, muito inspiradora. É um geólogo australiano que é filho do professor [David] Groves e que é uma máquina. Uma máquina em termos de prospeção, organização do trabalho, das equipas, em termos de motivação, é fantástico. Tanto que agora está a levar muitos alunos portugueses, jovens, para a Austrália, para trabalhar com ele. E, mais recentemente, tenho tido a oportunidade de estar a trabalhar com aquele que é o meu chefe, o Doug Kepert, uma enciclopédia andante. Tem uma bagagem enorme, viu muitas rochas e um Geólogo é tanto melhor quanto mais rochas vir. E como o meu mundo sempre foi aqui a Zona Centro Ibérica, aqui o Maciço Hespérico, ele é muito assertivo.

"Na prospeção é muito difícil eu vir a ver o resultado do trabalho que estou a desenvolver hoje. Numa mina, não. O que nós vemos num dia, no dia a seguir está a sair"

74. Trabalha com muitos mais projetos… fascina-o?

Sim, sim, muito. Tem sido uma experiência fantástica beber do conhecimento dele, quer como pessoa, quer como profissional.

75. Uhm... póster atrás da porta do quarto? (risos)

(sorrindo) Não, isso também não. Já lhe fiz o favor de a minha filha nascer no mesmo dia do aniversário dele. Foi o melhor que lhe consegui fazer. São figuras que profissionalmente nos marcam e que foram importantes num dado momento por nos cativarem. Existem outras figuras. Quem é aqui do Porto não pode dissociar-se do professor [Fernando] Noronha. Ele liderava o grupo de investigação que se dedicava aos recursos e à metalogenia aqui no Porto. E é uma figura incontornável dos recursos. Mas que me tenham marcado já durante o meu percurso profissional, foram estas figuras.

76. Se pudesse escolher, daquilo que tem sido a sua vida profissional, a atividade que mais gosta ou gostou de fazer, qual seria?

O acompanhamento do fundo de mina da produção da Panasqueira. A produção, o acompanhamento das frentes, a estimação dos recursos, aquele dia-a-dia. Na prospeção é muito difícil eu vir a ver o resultado do trabalho que estou a desenvolver hoje. Numa mina, não. O que nós vemos num dia, no dia a seguir está a sair, está a sair na lavaria, está a ser concentrado. Adorei.  É algo que digo a toda a gente. (indicando os colegas do escritório). O contribuir para essa produção e depois sentir que aquele trabalho teve impacto na empresa, nos seus resultados, nos nossos resultados, mas também a nível regional, para o envolvimento da região e o compromisso que se estabeleceu. Isso gera ali uma dinâmica muito interessante que nós na prospeção não conseguimos ter. Nós na prospeção não vemos o resultado do nosso trabalho. Vai demorar. E ali, vês. A dinâmica, o dia-a-dia, o planeamento. Adorei e digo muitas vezes que tenho muitas saudades. Tenho muitas saudades! Eu acho que é comum a toda a gente que passa por uma mina, uma vez mineiro, para sempre mineiro. Hoje em dia, se calhar não ia todos os dias à mina, principalmente a partir do momento em que comecei a ter mais responsabilidades de direção. Se pudesse voltar atrás, todos os dias teria ido à mina, porque é um vício. É algo que é difícil de pôr por palavras. Às vezes estou com colegas que trabalharam em minas e vamos explicar isto a colegas que nunca trabalharam nessa vertente, e os que tiveram essa oportunidade falam do respeito, daquela sensação de perigo, estarmos conscientes que estamos numa zona perigosa e que há um risco elevado em determinadas ações. É muito, muito interessante.

77. E qual é a atividade que gosta ou gostou menos?

Na geotecnia, o levantamento de tudo o que são medidas de fraturas de diaclases, aquela rotina.

"Com o evoluir da carreira somos cada vez menos geólogos e cada vez mais gestores." 

78. Finalmente alguém que o diga! (risos)

Eu fiz parte da equipa que fez parte do ante-projeto do alargamento da A24, ali nos nós mais finais entre Mirandela e Macedo de Cavaleiros. E passar uma manhã a medir diaclases e fraturas e falhas, depois passar aquilo tudo para um Excel e tratar e analisar aqueles dados… (abanando a cabeça) fiz aquilo, mas é muito repetitivo para mim. Eu não tinha perfil para aquele trabalho, mas foi muito importante para mim. Aprendi muita coisa a nível de segurança. Por exemplo, são procedimentos que a geotecnia tem muito mais do que a prospeção mineira. Eu quando trabalhei no projeto da EDP, numa barragem, só a questão de termos que ter um passaporte de segurança diz muito. Algo que, por exemplo, na nossa atividade de prospeção e pesquisa, principalmente nas empresas mais juniores é um bocadinho descartado. Isso trouxe-me essa responsabilidade: a segurança acima de tudo! No trabalho de mina também. A segurança é o valor mais importante de qualquer atividade profissional. Nas minas ainda mais e na prospeção também.

79. Mas ainda nos faltam estes cuidados...

Vamos falar da prospeção mineira. Um geólogo de prospeção, hoje em dia, tem que estar preparado para várias coisas. Primeiro, para a higiene e segurança, tem de ser o valor principal. Temos de ter consciência das comunidades e do ambiente, o respeito pelas comunidades onde trabalhamos e o trabalho administrativo. Temos de estar preparados, porque, cada vez mais, tudo passa pelo digital, temos que preencher 1001 documentos, formulários ou templates, mas faz parte do nosso trabalho. Um geólogo de prospeção não pode olhar para isso como perda de tempo, faz parte do nosso trabalho. E muitas vezes é isso que eu tento incutir nas nossas equipas. O facto de dedicarem uma manhã a fazer um treino de indução de segurança não é perder ter tempo para fazer prospeção, faz parte do trabalho de prospeção. Sem aquilo, nós não podemos fazer prospeção.

80. O que pensa sobre integrar técnicos dedicados a essa atividade nas equipas? Alguém que o ajude e apoie no preenchimento dos formulários e a perceber os procedimentos.

Eu acho que depende das fases em que os projetos estejam. Projetos que estejam numa fase muito embrionária, se calhar uma pessoa responsável, um geólogo, pode fazer esse trabalho ou ter um consultor externo que ajude nessa organização. À medida que os projetos vão crescendo, é fundamental ter um técnico de higiene, segurança e ambiente que esteja sempre dedicado e que permita que nós trabalhemos, (sorrindo) sabendo que temos ali um anjo da guarda que nos faz esse trabalho. Mas o trabalho administrativo, principalmente quando a nossa profissão evolui, é algo que nos consome muito tempo. Com o evoluir da carreira somos cada vez menos geólogos e cada vez mais gestores

81. É curioso, porque a maioria dos entrevistados tem referido que é esse trabalho mais administrativo o que menos gosta.

Faz parte da nossa missão profissional. Eu sei que, se quiser manter as nossas equipas no terreno a trabalhar de forma responsável, tenho de o fazer. E eles estão conscientes neste momento do que têm de fazer. Nós não saímos para o campo, por exemplo, sem ter um pre-start meeting todas as manhãs, em que toda a gente discute quem está no terreno, onde vai operar, depois quais são os riscos, quais é que são os perigos que vão encontrar, métodos de escape em caso de urgência. As autoridades são todas informadas e é por aí que nós temos de evoluir. É um custo acrescido, mas é um custo que tem um retorno. Porque imaginemos que há um acidente de trabalho. Eu já tive, infelizmente, um acidente de trabalho a fazer prospeção e não há nada que pague a saúde e o bem-estar. 

"(...) e ele pediu para ver os mapas da cartografia. Então, eu comecei a desdobrar as folhas e ele diz-me "Então trazes-me aqui um mapa numa folha de restaurante?"

82. Qual é que é a tua publicação favorita na área das geociências? Pode ser uma carta, um livro, um artigo, qualquer coisa.

Há um livro que foi muito importante para eu estruturar as minhas ideias, é uma edição de várias publicações, que é o Pre-Mesozoic Geology of Iberia do Dallmeyer. Foi muito importante para estruturar o meu conhecimento da Ibéria. Na prospeção, uso muito a monografia da AusIMM, que é uma associação mineira australiana que tem uma série de monografias e que tem uma que é a monografia número 30, penso, que ajuda na estimação dos recursos e das reservas minerais. Eu uso como guia. O PERC [Pan-European Reserves and Resources Reporting Committee], para quando nós reportamos recursos minerais, é algo que também tenho sempre à mão. A legislação é muito importante.

83. Qual é a sua lei favorita? (risos)

(sorrindo) A nossa. Nós temos que nos guiar por aquela que nos rege, quer gostemos ou não do diploma. É a lei nacional e é por ela que temos que nos reger. Há uma publicação que leio muitas vezes, que é do Bill Bryson, Uma breve história de quase tudo, porque também tem muitos capítulos dedicados à Geologia e é muito interessante para não geólogos, para que percebam um bocadinho do que é que a nossa base, a nossa Terra. Ofereço muitas vezes. É engraçado, tem muitos capítulos, torna-se fácil de ler.

84. Falámos há pouco um bocadinho do momento marcante que foi o doutoramento. Agora queremos um momento profissional que tenha sido embaraçoso ou que tenha sido um falhanço.

(pensativo) Nós todos os dias cometemos muitos erros, no mínimo 15% das minhas ações diárias são erros ou más decisões. Embaraçoso? Boa pergunta. Se calhar numa das minhas primeiras experiências profissionais, quando comecei a fazer cartografia para uma empresa da área dos recursos cerâmicos, foi pedido para se fazer cartografia de um pegmatito, que hoje é uma mina, por acaso. E decidi mal a escala inicial da cartografia, levei três ou quatro folhas de papel milimétrico A3, mas a escala em que eu comecei a desenhar não foi a indicada. Como estava numa zona longe aqui do Porto, não tinha muitos lugares onde pudesse comprar material e pedi ao senhor do restaurante se me emprestava uma toalha branca, de papel. Então, na primeira reunião com o diretor de Geologia da empresa, ali na zona de Coimbra, a um sábado de manhã, ele pediu para ver os mapas da cartografia. Eu comecei a desdobrar as folhas e ele diz-me "Então trazes-me aqui um mapa numa folha de restaurante?" E eu disse, (sorrindo) "Eh pá, calculei mal a escala inicial, comecei a desenhar numa escala muito pequena". O que era bom sinal, era sinal de que o corpo era muito extenso e tinha ali recurso mineral suficiente para ele ganhar algum interesse. Se calhar foi assim a situação mais embaraçosa. Mas depois guardei, tenho esse desenho dessa cartografia. Imaginem assim duas toalhas de restaurante em papel agregadas a duas ou três folhas de papel milimétrico A3.

85. Mas também mostra que em tempo de crise soube desenrascar-se.

O importante era mostrar trabalho. (confiante) Não, eu estava confortável. Depois até nos rimos. Após estar digitalizado, numa mesa digitalizadora, bateu tudo certo. Ainda foi tudo levantado a bússola e a fita métrica. Porque, na altura, o GPS não funcionava, era uma zona muito densa, com muita vegetação. Foi tudo com visadas e no fim a precisão era muito grande.

86. Já há bocadinho falámos do seu interesse pelo desporto, pelo menos durante os tempos universitários. E hoje em dia, algum hobby extra Geologia?

Hoje em dia, o hobby é levar a minha filha à piscina aos sábados de manhã.

87. Vão os dois?

Não, eu fico a ver. A minha filha adaptou-se muito bem, ela gosta muito de água, deve ser por ser das ilhas, eles já nascem com membranas interdigitais. (em tom jocoso) E não. Eu perco o interesse muito rápido por hobbies. Por exemplo, gostava muito de jogar e jogava muito bem ténis, mas depois tive uma lesão nas costas.

88. Mas então o maior hobby é o desporto, geralmente?

Sim, desporto. Gosto de passear, estar com a família. O meu hobby principal, verdadeiramente, é estar com a família, ou seja, aproveitar ao máximo para estar ao fim de semana com elas. Sou uma pessoa muito desinteressante a esse nível, perco muito facilmente o interesse. Se começar a fazer uma atividade, ao fim de seis meses já estou a achar aquilo uma rotina. (bufando) Desgasta-me verdadeiramente. 


Intraclasto

Oxigénio no céu, lítio na terra 

A geovida do Romeu tem sido pautada pela pesquisa de lítio em pegmatitos.


Geomanias

Rocha preferida? Aplito-pegmatito

Mineral preferido? Volframite

Fóssil preferido? O que é isso? Estou a brincar. Trilobite, por causa do Parque Paleozoico [Valongo]

Unidade litoestratigráfica preferida? 

Tudo da Zona Centro Ibérica e da Zona da Galiza - Trás-os-Montes

Era, Período, Época ou Idade preferido? Paleozoico. Devónico e Carbónico. Também o Neoproterozoico [Ediacárico] das Beiras [Grupo das]

Martelo ou microscópio? Martelo

Amostra de mão ou lâmina delgada? Amostra de mão  

Trabalho de campo ou de gabinete? Os dois 

Pedra Mole ou Pedra dura? Pedras duras

Carta Geológica preferida? 15-A [Foz Côa]

Recursos minerais metálicos ou não metálicos? Os dois, são os dois muito importantes. Mas... recursos minerais metálicos

Lusitânica ou Lusitaniana? 

Lusitaniana


Teaser da Entrevista