José Martins Carvalho

Dezembro 2022







RECURSOS HÍDRICOS

SÓCIO APG Nº O115

Nasceu em Lisboa, ao lado da estação de Campolide. Ainda hoje adora comboios. Trabalha em gestão de água subterrânea. A sua vida profissional encarrilou na tropa, quando foi levado para Moçambique. Anos mais tarde, julgou que o deserto da Líbia seria a sua última estação...

"e disseram-me ''Agora desenrasque-se''. E eu passei a ter de marcar furos (...) e aquilo tinha de dar água! No norte de Moçambique, os pontos de água eram bem conhecidos das populações. Portanto, a guerrilha ia lá, nós também íamos, mas só podia ir um de cada vez, porque se fossemos os dois ao mesmo tempo, aquilo dava para o torto.

Foi no escritório da sua TARH que tivemos o privilégio de conhecer o José, um homem que não gosta de se meter em bicos dos pés, mas que já se meteu em situações bicudas. Salvou-o a Geologia, a mesma que o fascinou logo em miúdo, quando passeava de carroça com a tia Rosalina no Maciço Calcário Estremenho e enquanto aluno no liceu Alexandre Herculano. Ainda hoje não sabe por que carga de água foi parar à água, mas mandaram-no desenrascar-se em Moçambique e fê-lo irrepreensivelmente. Até agora. Seja água a mais, água a menos ou até água quente, nada lhe dá mais prazer do que resolver os problemas de água das pessoas e passar o testemunho, com ênfase nos seus erros e insucessos, aos seus hidro-pupilosVenham conhecer este nome incontornável da hidrogeologia, que cedo soube que seria "muito feliz a mexer com estas coisas da história da Terra". Sente-se um felizardo por tudo o que a vida lhe proporcionou e nós felizardas pela oportunidade desta conversa com este geontleman! E sim, é oficial, os hidrogeólogos também consultam o Borda D'Água.


Entrevista 

Escritório da TARH, julho de 2021


1. Nome, idade, local de nascimento?

José Martins Carvalho, 77 anos. O local de nascimento é Lisboa, mas por acaso.

2. Por acaso, porquê?

Porque o meu pai era ferroviário. Estamos a falar dos anos 40, ano de 1943, há 80 anos. O mundo e, particularmente, Portugal, era muito diferente. Nessa altura, para uma pessoa que vivia no meio rural, como era o caso do meu pai, da região de Ourém, sair era fundamental para ter outros horizontes. Então, muitos jovens daquela região iam trabalhar para o caminho-de-ferro. Outros iam para a polícia, mas a maioria, naquela zona, ia mesmo para o caminho-de-ferro, para a CP. O meu pai vivia em Campolide e eu nasci em Campolide, numa casa ao lado da estação de Campolide, por isso eu gosto muito de comboios. Um dos meus hobbies são comboios. Na minha biblioteca, para além de livros de hidrogeologia, há aqui muita livralhada de comboios. Nasci então em Lisboa, em Campolide, mas o meu pai de seguida foi para o Tua. As minhas recordações mais antigas são do Tua, a ver passar os rabelos lá em baixo (apontando), ainda antes de haver barragens. Depois Pombal. Depois Porto, onde fiz o liceu, a universidade e mais tarde outras aventuras - que se calhar vamos falar nelas -, já ligadas à profissão. Portanto, Lisboa foi por acaso.

3. Se tivesse de resumir numa única frase o que faz profissionalmente, para leigos, o que diria?

Para leigos é mais difícil. Digamos que transmitir isso para leigos de um estrato cultural relativamente alto, é fácil: eu faço a gestão da água no solo e no subsolo. Para leigos, talvez pudesse dizer que eu mato a sede a partir de águas subterrâneas, quando há falta de água, e resolvo problemas difíceis quando há água a mais. Mas isto é uma mensagem difícil de passar.

"Para leigos, talvez pudesse dizer que eu mato a sede a partir de águas subterrâneas, quando há falta de água, e resolvo problemas difíceis quando há água a mais"

4. E onde é que entra aí a geotermia?

Ah, a geotermia é um fait diver. A geotermia não deixa de ser gestão do solo e do subsolo, só que é uma gestão já ligada ao paradigma da energia e, devo dizer, a geotermia basicamente é hidrogeologia. Temos aquíferos que em vez de ter água a temperatura normal, têm água quente, ou têm vapor, ou têm água a pressões muito elevadas. Mas são aquíferos. De facto, hoje boa parte da minha vida passa pela geotermia: nos Açores, em Chaves, no Gerês e noutros polos termais. Quando deixei Moçambique, que eu comecei a minha vida profissional lá por razões diversas ligadas com a Guerra do Ultramar, regressei a Portugal continental, então metrópole, fui trabalhar para a firma A. Cavaco, que era para mim a catedral da hidrogeologia em Portugal. Era a grande escola de hidrogeologia, em paralelo com os serviços hidráulicos. Nessa altura, no fim dos anos 70, tinha havido o grande choque energético e começou a existir algum interesse em aproveitar a água quente das termas. Nós trabalhávamos muito na prospeção e desenvolvimento de recursos hidrominerais nas termas portuguesas e nalgumas espanholas, pelo que fui naturalmente acompanhando também o que se passava no estrangeiro e, particularmente, na Europa. Colaborámos em tudo o que foi captar água quente nos balneários termais e fomos nós que fizemos o primeiro projeto geotérmico português, em Chaves, que ainda agora funciona. Chaves foi o primeiro local em Portugal onde, decididamente, se fez um furo geotérmico para aquecimento das piscinas. O presidente da câmara, ainda me lembro como se fosse hoje, chamou-me ao gabinete lá em Chaves, e disse-me ''Oh doutor, oh doutor, vamos aquecer as piscinas com água das termas!''. Não se falou em geotermia, mas a verdade é que se fez geotermia. E depois foi uma bola de neve: após as termas portuguesas vieram os Açores e ainda fiz alguma coisa em Espanha. Os Açores são um exemplo interessante! 

5. Em que ano e onde ingressou em Geologia?

Lembro-me muito bem: 1961, no Porto, na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.

6. O que é que o levou a seguir Geologia?

Muito fácil. No Liceu Alexandre Herculano, no Porto, que era na altura uma escola com bons professores, e muito bem organizada. Havia uma sala grande de mineralogia e Geologia, fundada por um senhor, que tinha até um livro de mineralogia, que se chamava Filinto Costa. Ainda o cheguei a conhecer, uma personalidade! E esse senhor tinha lá uns pósteres que retratavam a vida na Terra, no passado: os primeiros homens, depois recuando a alguns mamíferos antigos que a gente nunca viu, depois os dinossauros e por aí fora até aos primórdios. Isso de facto fascinou-me e eu pensei "de facto, deve ser engraçado estudar isso!''. Portanto, foi uma sala bem arranjada num liceu, hoje escola secundária, que me levou a querer ser alguém ligado a essas artes de conhecer a vida da Terra. 

7. Foi esse o seu primeiro contacto consciente com a Geologia?

Diria que foi o primeiro contacto [consciente]. Mas, curiosamente, e penso que isso se prende com outra questão, o meu contacto real no campo com a Geologia foi outro, muito interessante, e ainda tenho memórias disso. Eu ia passar férias à terra do meu pai, em Ourém. Como sabem, ali existe a bacia cretácica que tem no topo um nível que antigamente se chamava Turoniano-Cenomaniano (agora penso que é só Cenomaniano superior, está sempre a mudar), que tinha uns fósseis magníficos de ouriços-do-mar. Uma vez, passando na carroça com a minha tia Rosalina, por qualquer razão tivemos que parar e vi lá as pedras no chão, que estavam cheias de [fósseis de] ouriços. Então passei muitos dias das minhas férias atrás dos ouriços e outros pequenos fósseis. Isso foi tudo mais ou menos na mesma época, portanto nos meus 14 ou 15 anos, em que se formou claramente a perspetiva de que eu se calhar era muito feliz andando a fazer essas coisas. Além de que, quando criança, gostava de ter sido bombeiro, (risos) mas não fui. Agora acudo a outros fogos. (risos)

8. Depois de falar sobre as aulas de mineralogia, história da Terra, fósseis... como é que vai parar às águas?

Ah, isso depois são outras histórias... (sorriso) Mas essa pergunta é engraçada: porque é que eu fui parar às águas? Devo dizer-vos que enquanto estudante de Geologia na Faculdade de Ciências do Porto, em 1965-66, quando eu acabei - e o panorama não era de certeza muito diferente em Lisboa e em Coimbra - o que nos ensinavam era uma Geologia clássica, fortemente centrada na Geologia, na mineralogia, com uma educação muito forte em química e física, mas aplicações, propriamente, não havia nada. Aqui em Lisboa talvez houvesse um pouco mais, sobretudo ligado ao que então se chamava Ultramar. O Porto era um caso típico em que o que se ensinava, a perspetiva que havia, era a de que a Geologia é uma coisa muito útil, mas o que nos mostravam era o gosto pelas pedras bonitas. É uma coisa diferente o gostar de pedras bonitas e o ser profissional. Por acaso, nessa época conheci duas pessoas que me mostraram que era possível ser-se profissional, que era possível pessoas, alunas da Faculdade de Ciências do Porto, virem a ser geólogos a sério. Nada de muito concreto em relação à água. Mas então houve um passo decisivo na minha vida. Fui para a tropa e nessa altura o serviço militar era todo feito a pensar na guerra colonial, guerra essa que nós ainda não sentíamos como uma guerra. Havia uma guerra, lá longe, em territórios que eram portugueses e nós tínhamos que ir para lá e aceitávamos, na maioria dos casos. Ainda hoje não sei por que carga de água fui parar à engenharia militar, onde tive muitos contactos com engenheiros, maioritariamente engenheiros civis. Comecei por estar um ano com eles em Tancos e a certa altura disseram-me "Chegou a sua hora, tem de ir para Moçambique". Quando cheguei a Moçambique, jovem geólogo, com pouca experiência, que nunca tinha feito uma carta geológica, lembro-me que um senhor, que foi Ministro do Ambiente em Portugal, o Sr. Major Baltazar Morais Barroco, tinha ordem, já que eu era geólogo, para eu ir coordenar um programa de captação de águas subterrâneas para abastecer as tropas portuguesas em campanha. De um momento para o outro eu percebi que afinal os geólogos podem ser úteis e até podem fazer pesquisa e captação de águas subterrâneas. A tropa e a engenharia militar deram-me um curso acelerado de fotointerpretação - em África, ainda agora, a fotointerpretação é fundamental -, deram-me um curso acelerado de pesquisa e captação de águas com meios geofísicos numa empresa de Lourenço Marques, atual Maputo, que estava ligada à A. Cavaco, e deram-me também um curso ligado à mecânica de solos, na junta autónoma de estradas de Moçambique. Portanto, eu tinha ferramentas [conhecimentos], mas estavam lá muito metidas atrás, não eram muito valorizadas, e de repente deram-me umas ferramentas novas e disseram-me ''Agora desenrasque-se''. E eu passei a ter de marcar furos no pré-Câmbrico moçambicano e aquilo tinha de dar água! No norte de Moçambique, os pontos de água eram bem conhecidos das populações. Portanto, a guerrilha ia lá, nós também íamos, mas só podia ir um de cada vez, porque se fossemos os dois ao mesmo tempo, aquilo dava para o torto. Por isso era fundamental termos sucesso. Dessa maneira aprendi, ao serviço do exército português, em Moçambique, a pesquisar e captar água em rochas cristalinas, que é hoje o que eu mais gosto de fazer e ainda faço, 

"(...) de um momento para o outro percebi que afinal os Geólogos podem ser úteis!"

9. Depois, quando voltou para Portugal...

Depois do serviço militar, fiquei numa empresa lá em Moçambique e, nessa altura, tive um convite quase irrecusável para ir para a Total, para Angola. Não sei porquê, porque eu não era grande aluno, mas recebi esse convite para ir prestar provas à Total, a Luanda, para ingressar nos quadros da empresa. Mas nem sequer aceitei, porque estava tão entusiasmado com a minha vida em Moçambique, com o que fazia lá, com a hidrogeologia, que resolvi ficar. Não quis mudar de vida. Fiquei por lá uns anos, até 1973, altura em que senti que havia qualquer coisa no ar, que estava a mudar, e então regressei. Era para ir para a empresa que ia fazer a geotecnia das autoestradas, que já era a Brisa. Mas à chegada ao aeroporto, o patrão A. Cavaco estava lá e raptou-me: ''Não, o senhor vem para aqui e fica connosco''. (risos). Nessa altura, de facto, o mercado era muito diferente do que é agora. Foi uma época de ouro para os geólogos portugueses, era só levantar o dedo e tínhamos emprego imediato. Havia muita necessidade e tínhamos espaços em África, como Angola e Moçambique, a Guiné não contava, era preciso conhecer, havia muita atividade económica, o reconhecimento básico dos territórios não estava feito. Tudo isso estava a ser feito e o geólogo tinha um papel fundamental! Não é por acaso que é em Angola que nasce efetivamente a primeira célula do que viria a ser a APG. Em Angola havia mais massa crítica de geólogos profissionais do que aqui [Portugal] e em Moçambique também havia muita massa crítica. Ainda agora, um problema que temos cá, quando falamos que queremos ter uma ordem - e eu apoio essa ideia -, é uma lacuna terrível em termos de massa crítica. Quando nós queremos fazer qualquer coisa em prol da profissão, em que precisamos do esforço das pessoas, não temos organização para pôr a coisa andar. 

"Não é por acaso que é em Angola que nasce efetivamente a primeira célula do que viria a ser a APG. Em Angola havia mais massa crítica de Geólogos profissionais do que aqui [Portugal]"

10. Voltando um bocadinho ao guião, antes de ser geólogo, qual era a profissão que estava na calha? E depois de bombeiro, claro (risos)

Diria que eram as ciências da Terra, pela perceção que eu tive de que seria muito feliz a mexer com estas coisas da história da Terra. E por isso, aos meus 17 anos, quando tive que escolher para que curso ia, tive sérias dúvidas. O leque de opções também não era muito grande... Na altura, havia engenharia de minas ou Geologia e o meu coração balançava muito para a engenharia de minas. O que pesou foi um aspeto prático imediato: eu precisava de ganhar dinheiro, o curso de Geologia era de quatro anos e o de engenharia era de seis. Esse foi o critério que presidiu a decisão e acho que fiz a opção certa, fui e estou a ser muito feliz.

11. Na sua família, tanto em gerações anteriores, e posteriores, há mais alguém em Geologia?

No passado não havia nada. Dos meus filhos, é curioso que não senti qualquer apelo deles para seguir uma carreira igual à minha. O meu filho, que é o mais novo, fez engenharia do ambiente e depois trabalhou aqui comigo, vários anos, neste escritório, e demo-nos muito bem, fomos muito felizes, mas ele entendeu que queria ir conhecer outras formas de vida. Hoje é engenheiro do ambiente no Brasil, anda por lá a monitorizar as poluições daquela grande barragem de rejeitados [Mariana], portanto julgo que também é feliz e isso é que é importante. A minha filha do meio, muito virada para a natureza, acabou por tirar um curso de reabilitação psicomotora e é ativista de causas ambientais. A minha filha mais velha começou por fazer o curso de biologia, fez o mestrado em biologia, depois começou a ver aqui o funcionamento da firma, a achar que isto é capaz de ter alguma graça, então fez o mestrado em ensino de biologia e Geologia. Quando se apercebeu que não sabia nada de Geologia - e não sabia -, resolveu então fazer o doutoramento em Geologia aqui na Faculdade de Ciências [da Universidade de Lisboa], o qual está agora a frequentar, ramo de hidrogeologia, com a Professora [Maria do] Rosário [Carvalho]. Portanto, essa filha vai, provavelmente, herdar algumas das minhas competências, mas de forma um bocado controversa. Ainda assim, faltam-lhe aquelas bases que nos dão na escola: quando nós olhamos para um problema concreto nós pensamos logo na Geologia básica e ela vai pensar na biologia básica.

12. Foi um aluno médio, bom ou muito bom? Fazia parte dos mais calados ou dos mais participativos?

Vou ser franco convosco: eu não era grande aluno. Sempre gostei de fazer aquilo que gostava e então gostava muito das cadeiras de que gostava, ou das que o professor comunicava bem e, se calhar, vou dizer, detestava as outras. Diria que era um aluno médio normalíssimo. Tinha um grupo que era ''a Malta de Rio Tinto'' e hoje alguns são geólogos: o Casal Moura, que foi geólogo do Fomento Mineiro, o Mário Oliveira, que foi geólogo na Junta Autónoma de Estradas, o Costa Pereira, que teve a CÊGÊ. Tínhamos este grupo, não havia propriamente um líder claro, éramos todos líderes, e organizávamos sistematicamente viagens ao Anticlinal de Valongo e também a outros locais mais distantes, mas íamos sobretudo ao Anticlinal de Valongo, que era ali ao lado do Porto. Íamos e vínhamos de comboio ou elétrico, fazíamos os nossos trabalhos e, às vezes, mostrávamos os resultados aos professores. Alguns professores apenas ficavam com as pedras bonitas, mas outros ensinaram-nos que o caminho era mesmo esse, no campo, e que era por aí que devíamos continuar. 

"(...) tinha um grupo que era ''a Malta de Rio Tinto'' e hoje alguns são geólogos (...) e organizávamos sistematicamente viagens ao anticlinal de Valongo (...)

13. Participativo ou mais calado?

Não era muito participativo, porque eu sou uma pessoa retraída em princípio, não gosto de me pôr em bicos de pés. Quando me fazem perguntas, participo, mas não me ofereço. Era um [aluno] médio que tentava fazer o seu melhor, mas não andava sempre de volta dos professores a fazer perguntas. Quando trazia materiais de Valongo, sim, aí ia mostrar aos professores.

14. Dentro do grupo de professores que teve, houve algum que foi mais importante?

Sim. Foi um senhor que nunca foi muito considerado por alguns dos seus pares, mas de facto foi uma pessoa determinante na minha carreira e de outros colegas meus, alunos do Porto nessa época: o Professor Gaspar Soares de Carvalho. É uma pessoa pouco conhecida, ainda foi diretor do Instituto de Investigação Científica de Moçambique e era um homem muito bom em sedimentologia. Além disso, organizava muito bem equipas, tinha muita experiência de África, porque ele tinha feito Geologia na Guiné e em Angola e também na Índia portuguesa, ele tem muita coisa publicada sobre a Angola. E foi ele o primeiro professor que nos disse claramente ''Vocês podem ser Geólogos. Podem fazer profissão disto. Podem ganhar dinheiro com isto!''. É pouco conhecido, mas esse homem foi, de facto, o meu padrinho na Geologia. O primeiro empurrão foi ele que deu.

"A sociedade foi muito generosa comigo, porque pôs-me a fazer aquilo que eu gosto de fazer e ainda ganho dinheiro com isso!"

15. Se tivesse de colocar uma fotografia de um geólogo na parte de trás da porta do seu quarto, quem era?

Tinha que pôr muitos, porque tive muitos amigos, muitas pessoas que me ajudaram. A sociedade foi muito generosa comigo, porque pôs-me a fazer aquilo que eu gosto de fazer e ainda ganho dinheiro com isso! Sendo só um, vou escolher o professor José Ávila Martins. É outro desconhecido, mas vale a pena ser conhecido. Era um açoriano da ilha do Pico, que infelizmente já faleceu, e, se fosse vivo, teria hoje os seus 100 anos. Foi um brilhante aluno aqui na Faculdade de Ciências de [Universidade de] Lisboa, trabalhou na Junta de Investigações do Ultramar, portanto, fez muito trabalho de campo a prospetar urânio, na altura em que o urânio não estava na mó de baixo e era uma coisa considerada "o futuro". Estávamos em 1960 e ele aparece no Porto com um perfil totalmente diferente, como professor convidado ou assistente convidado, com um perfil, para mim, surpreendente. Eu estava habituado aos professores de Geologia com uma tipologia de sábio louco ou o geólogo típico que anda sempre com saco de pedras às costas. (risos) Eu nessa altura fui conhecendo alguns engenheiros de minas, o geólogo era a antítese. O engenheiro de minas é o homem de gravatinha que gosta de mandar... de mandar nos geólogos, sobretudo. (risos) Eu sou amigo de alguns engenheiros de minas, mas eles sabem que é assim. (sorriso) E então, aparece o professor Ávila Martins, um gentleman, a vestir muito bem, casado com uma senhora norueguesa, que faz prospecção mineira, que tem técnicas inovadoras a nível da prospeção, tendo por base a geologia estrutural, uma pessoa que sabia estar no campo, mas que a um nível mais alto se mexia muito bem. E, portanto, tinha um perfil que eu acho que também gostaria de ter. E ele ensinou-me muito do que deve ser o comportamento de um geólogo. Sendo assim, o professor José Ávila Martins, que eu gostaria muito de cumprimentar, se calhar era de quem teria aqui a fotografia.

"Gosto de transmitir/contar histórias daquilo que fiz, particularmente do que fiz mal, dos meus erros e dos meus insucessos. (...) Aprende-se mais com os insucessos dos outros."

16. Quanto às suas preferências, qual é a sua publicação preferida?

Uma carta geológica, eu diria que é a carta geológica de Moçambique 1:2.000.000 de 1968. E porquê? Porque foi com ela que eu comecei a procurar água. E reparem o que é procurar água com uma carta geológica de 1:2.000.000, uma escala em que 1 mm são 2 km e foi com isso que eu comecei! Gosto dela porque ela me obrigou a ser geólogo, porque eu tinha aquele guião, mas depois tinha que procurar o pormenor. Andei com ela durante muitos anos e quando vou a Moçambique ainda a levo. Essa carta tinha os grandes traços de fracturação, poucos, e foi coordenada por um fotogeólogo, que me ensinou hidrogeologia. Ele marcou muitos lineamentos de fotointerpretação: alguns deles são falhas, outros não. Por isso, a nível de cartas essa é claramente a minha carta preferida. A nível de livros/publicações, vou-vos desiludir por completo, porque há tratados magníficos, tenho aí o Princípios de Geologia do [Charles] Lyell, que é um livro belíssimo. Mas a verdade é que eu tenho preferências muito mais modestas. São dois livrinhos que, provavelmente, ninguém usa, mas que eu acho que são duas preciosidades. O primeiro é do [Gerasim Vasilyevich] Bogomolov, ''Hydrogéologie et notions de géologie d'ingénieur'' [1960], que é muito interessante. É um livro das Editions De La Paix, portanto, russa, e a escola soviética era importante e avançada, muito clássica. Esse livrinho revelou-se um livrinho de bolso fantástico, que eu ainda agora uso. Passo a modéstia, tenho os graus académicos todos, conheço todos os calhamaços que estão aí, mas quando estou aflito vou buscar o "Bogomolov", porque lá está tudo no sítio certo e não é preciso folhear muitas páginas. Claro que a hidrogeologia está [nesse livro] ao nível do fluxo subterrâneo na equação de Thiem, ele não falava ainda nos métodos de não-equilíbrio, na equação de Theiss... ficou por aí. Mas, até aí, é uma preciosidade. O outro livrinho chama-se ''Introducing groundwater'', do Michael Price. É um livro fantástico para qualquer geólogo que saia da Universidade, porque os conceitos estão maravilhosamente expressos. Quando senti que tinha que progredir do ponto de vista teórico, fiz uns cursos acelerados nos Estados Unidos, já nos anos 80, senti que era o momento de arranjar mais ferramentas na minha carreira e devo dizer que aprendi algumas coisas. Os americanos são muito bons nesse tipo de cursos, porque há uma cultura de formação contínua, pois, se não a houver, a pessoa simplesmente deixa de ter emprego. Portanto, há muitos cursos acelerados e eu tirei lá três: um de hidrodinâmica, outro de química mais aplicada à contaminação e outro de estatística, que eram as lacunas que eu sentia que tinha. E este livrinho, que é feito para não-geólogos, é uma delícia, porque lê-se calmamente ao serão e tem lá tudo muito bem expresso.

17. Na sua vida profissional, o que lhe dá mais prazer fazer?

A minha vida profissional tem duas facetas: eu assumo-me basicamente como hidrogeólogo profissional, mas, de facto, a partir de certa altura, também tive uma carreira académica. Agora sou professor jubilado, mas tive o gosto de conquistar todos os graus académicos que se podem obter em Portugal, o que me deu o prazer de fazer isso fora do circuito académico e que, para mim, foi muito importante. Assim, diria que tenho dois prazeres distintos: a nível académico, o prazer básico que tenho é transmitir experiência. Gosto de transmitir/contar histórias daquilo que fiz, particularmente do que fiz mal, dos meus erros e dos meus insucessos. Tenho a coragem de o fazer, porque acho que o devo fazer. Aprende-se mais com os insucessos dos outros. A nível da atividade profissional, o que gosto de fazer é resolver os problemas das pessoas. Dá-me muito gozo. Se uma pessoa está atrapalhada porque não tem água, vamos lá tentar resolver o problema. Se tem um problema no tribunal para resolver e precisa do parecer de um geólogo, vamos lá resolver. Resolver problemas às pessoas. 

"(...) o que gosto de fazer é resolver os problemas das pessoas. Dá-me muito gozo. Se uma pessoa está atrapalhada porque não tem água, vamos lá tentar resolver o problema"

18. Qual foi o furo mais difícil que teve de solucionar?

Coordenei um furo muito difícil, que não foi [o furo em si] tão difícil assim, mas tenho que falar nele. Foi o furo geotérmico da Força Aérea, no Lumiar, o furo mais profundo até hoje feito aqui no continente, para captação de água, que atingiu os 1501 metros de profundidade. Tínhamos o modelo do furo de petróleo em Monsanto, mas fazer um furo 1500 metros não é como fazer um furo de 30, não é? O risco era grande, mas a Geologia funcionou. O risco de insucesso revelou-se nulo e correu tudo muito bem. Esse furo deu-me gozo pela excitação, digamos, associada a isso. Bem, como gostam de umas histórias picantes, no sentido lato (risos), vou-vos contar talvez o trabalho mais difícil que tive, não pela complexidade técnica, mas pelas circunstâncias que tive de viver. Para além, claro, dos casos que tive na guerra, em Moçambique, por exemplo, como uma situação em que eu estou rodeado de uma secção de soldados, onde os paraquedistas tomaram uma posição, na serra do Mapé, à FRELIMO [Frente de Libertação de Moçambique]. Depois houve um grupo terrestre que foi tomar conta daquela posição e eu fui a seguir, para resolver o problema da água. Toda a gente ainda vivia em barracas de campanha, não havia nada. Eu fui lá passado uma semana após a tomada de posição. Aí as emoções são muitas, incluindo o medo. Lembro-me dessa noite, antes de fazer a picada, porque se podia levar um tiro com muita facilidade. Por isso, a hidrogeologia militar diz-me qualquer coisa. Mas a tal história que nunca poderei esquecer aconteceu quando, por circunstâncias que até agora não percebo porquê, convidaram a A. Cavaco para estudar o abastecimento de água a uma base militar que a Líbia tinha na fronteira com o Chade. A Líbia, ainda no tempo do senhor Kadhafi, tinha uma guerra com o Chade, porque pretendia impor as ideias libertadoras do senhor Khadafi. Essa base militar estava situada na Faixa de Auzu, ''terra de ninguém'' entre território colonial francês e italiano [actualmente pertencente ao Chade], eu fui escolhido para fazer o trabalho e o meu trabalho consistia em arranjar um local para fazer um furo de captação para abastecer a enorme base aérea, onde podia aterrar um Boeing 747 e que tinha que ser abastecida a vários quilómetros de distância. Então, eu fiz tudo como deve ser. 

"(...) gosto de fazer bem a preparação dos trabalhos, acho que isso é mesmo fundamental! Quando há um trabalho, acho que o pior que se deve fazer é ir logo lá a correr. Não! Primeiro faz-se bem o trabalho de casa e depois vai-se lá com tudo preparado."

Fui buscar elementos a França, porque como o local era mesmo no norte do Chade, havia muita informação em França. Comprei as cartas geológicas todas que havia, não havia muitas, só a carta de 1:1.000.000 da Geological Survey. E, um dado dia, lá fui à Líbia. As coisas começaram por correr um bocado mal, porque comecei em Seba, cidade que fica a cerca de 300 km do local de trabalho, e não havia meio de nos darem um avião para irmos para baixo [o local do trabalho], estive lá uma semana no hotel à espera que houvesse transporte. Ficámos à espera, a falar da vida e tal. E, finalmente, lá chegou um avião, um monomotor pilotado por um árabe, e eu e um senhor alemão, Peter Meyers, lá fomos para a Auzu. Por acaso, tive a premonição que alguma coisa de esquisito se podia passar. Normalmente, gosto de fazer bem a preparação dos trabalhos, acho que isso é mesmo fundamental! Quando há um trabalho, acho que o pior que se deve fazer é ir logo lá a correr. Não! Primeiro faz-se bem o trabalho de casa e depois vai-se lá com tudo preparado. As cartas todas que houver, as geolocalizações, tudo! E eu fiz isso e ainda mais: além de levar um mapa geológico 1:1.000.000 à minha frente, enquanto olhava pela janela pus o cronómetro a funcionar. Portanto, podia controlar muito bem as distâncias ao mesmo tempo que ia vendo a Geologia. Como no deserto a Geologia vê-se perfeitamente, eu estava perfeitamente orientado. Durante essa viagem, comecei por estar numa zona de formações miocénicas, muito bem expostas, depois começou a aumentar a cobertura de areia, depois havia um afloramento na carta 1:1.000.000 de uma rocha eruptiva básica e eu vi esse afloramento, aquele klippen, portanto sabia onde estava. Eis senão quando começou a ficar um tempo muito típico de deserto, muita neblina que não é neblina, mas pó. Portanto, acaba por se ter uma visibilidade muito pequena. Então o piloto, a certa altura, começou a olhar muito, a falar ao microfone pela rádio e diz ''Olha, estou perdido! Não sei onde é que estou.'' E eu "Mas eu sei onde estou!". E eu sabia onde estava, só que a minha experiência do norte de África não era a mesma que a de Moçambique. Sabia que estava ao lado de um Oued [vale fluvial típico de zonas semi-desérticas], portanto, estou a ir para sul, sabia que tinha de atravessar o Oued e voltar para trás. Nessa altura disse ''Agora, já que estamos aí, vamos à esquerda'' e ao mesmo tempo ia a olhar para o lado, para ver se via o Oued, que é uma linha de água, em África isso vê-se bem. Mas ali não, no norte de África, não se vê nada... quando muito, vê-se uma concentração maior de umas acácias, umas árvores espinhosas, mas água nem pensar. Agora sei-o, da minha experiência na Argélia. De maneira que eu passei alegremente o Oued sem dar por ele. Quando olho em frente, comecei a ver uns traps que eu sabia que já eram perto do Sudão: ''Calma, temos que ir para norte''. Então mandei voltar para norte, mas o piloto avisou que estava a ficar sem combustível e que tinha de aterrar, eu tirei os meus óculos escuros, coloquei-os no banco, apertei o cinto o mais que podia e o senhor fez uma aterragem impecável, no deserto, em Sarir Tibesti, uma zona muito batida pelo vento, onde o solo fica compactado. Ao meio-dia, era segunda ou terça-feira, e nós com um espanto total, ''Isto não é um filme!", pensava, "É mesmo verdade! Estamos mesmo no meio do deserto, perdidos, sem combustível.'' Então, entretanto, vêm aquelas coisas todas que se passam no deserto: tempestades de areia, de noite pareceu-nos ver um avião a aproximar-se, não era, mas gastámos o único very light que tínhamos para mostrar que estávamos lá. Cada um de nós comeu uma laranja, porque havia meia dúzia de laranjas e mais nada. Não havia água. A noite foi muito fria, mas lá se passou. No outro dia de manhã, pus-me a pensar na vida e calculei a distância ao ponto, ainda tenho os mapas, e eram cerca de 30 km. Então perguntei ao piloto que autonomia de combustível ele ainda teria, mesmo tendo ele dito que tinha de aterrar. Ele agitou as asas e disse ''Ah, isto ainda deve ter para uns 10 minutos''. Então, já que eu era o único que sabia onde estávamos, dei instruções para irmos na direção do ponto de destino inicial. Mas o piloto tinha uma ideia diferente, queria voltar ao ponto de partida, em Seba, mas nós nunca teríamos combustível para lá chegar. De maneira que quase tivemos de andar à pancada no avião para o obrigar a ir no sentido que eu pretendia. Felizmente correu tudo bem e ao fim de 10 minutos lá vimos a picada que dava acesso ao quartel. Nova aterragem, com o combustível a falhar nos momentos finais, mesmo à filme, foi andando aos saltinhos e num dos últimos saltinhos "Ah, já não há combustível, paciência". E depois ficámos ali quatro dias à espera que passasse alguma caravana para nos salvar. Quando fomos salvos, estávamos desidratados, cansados e ofereceram-nos um bruto lanche: borrego assado e sumo de laranja, nuns tapetes virados para Meca, fizemos as nossas orações e eu fiquei embriagado, porque estava sem nada no estômago e de repente comi bastante.  Apercebi-me disso porque ainda nessa noite fomos para a base aérea e pareceu-me ver uma floresta tropical e luxuriante pelo caminho. Isto é uma história picante, tanto que eu durante cinco anos não contei à minha mulher, senão ela nunca mais me deixava sair de casa. (risos)

19. Já marcou férias propositadamente porque gostava de ir ver um local devido à sua Geologia e ocultou da sua família o motivo?

Não. Por acaso, como a minha mulher também gosta destas coisas, nós fazemos muitas férias só a pensar na Geologia. Hoje em dia cada vez é mais fácil escolhermos os geossítios ou geomonumentos a que vamos. As nossas férias são muito condicionadas por isso, portanto, nunca tive que recorrer a essa artimanha, sou um felizardo. (risos) Os filhos, desde que a minha mulher estivesse de acordo comigo, tinham que alinhar. Se calhar foi por isso que depois nenhum deles quis ser geólogo. (sorriso)

20. Na época em que terminou o curso, quando lhe perguntavam o que fazia da vida, perante a resposta "sou geólogo", qual foi a resposta mais caricata que obteve?

Isso, de facto, era uma profunda deceção, devo dizer. O meu pai queria à viva força que eu fosse engenheiro e eu não quis ser engenheiro. Hoje tenho uma atividade muito próxima da engenharia, mas não sou engenheiro. Os meus tios e a minha família não entendiam o que eu fazia, havia uma confusão com arqueólogo, geógrafo, enfim.

"nós éramos três peritos internacionais e andávamos sempre na boca do mundo. Os telejornais abriam connosco, fui à tabacaria comprar o jornal e eu estava na primeira página"

21. Qual foi o evento mais marcante na sua carreira? Pode ser positivo ou negativo.

Voltando a ressalvar que tive duas carreiras paralelas, uma claramente profissional e uma académica, que, me perdoem os académicos, foi uma carreira um bocadinho marginal sempre. Então, foi a nível académico, foi ter feito o doutoramento, foi um momento marcante na minha vida. Eu senti que tinha competências, mas o doutoramento deu-me um estatuto, o reconhecimento. Porque estar-se no meio académico sem doutoramento é ser-se pária, portanto o doutoramento foi muito importante. De resto, na vida profissional, eu acho que foi um crescendo de intervenções. Já falei sobre a Líbia, já contei no meu princípio de vida na guerra do Ultramar, então talvez falte referir um acontecimento também engraçado que me marcou muito profissionalmente. Foi há cerca de 10 anos ter feito parte da equipa que teve que ir ao Peru, a convite do conselho de ministros do Peru, avaliar o impacto da Mina Conga, que é um grande projeto mineiro, nos recursos hídricos. Eu não conhecia a América Latina espanhola. Tive a oportunidade de conhecer muito bem o Peru, tive a oportunidade de ter muita exposição mediática, porque nós éramos três peritos internacionais e andávamos sempre na boca do mundo. Os telejornais abriam connosco, fui à tabacaria comprar o jornal e eu estava na primeira página, tive logo que fazer uma data de selfies lá. (risos) Também tive a oportunidade de conhecer muito bem o professor Rafael Fernández Rubio, que é uma grande personalidade a nível das águas subterrâneas e da indústria mineira. Foi difícil fisicamente, porque a mina ficava a mais de 4000 metros de altitude e o governo começou por nos colocar numa base a dois mil metros a tomar chá de coca para nos adaptarmos à altitude. Essa experiência permitiu-me mais uma vez perceber que nós, geólogos, temos uma responsabilidade social, ética, que devemos ter que assumir e devemos ter consciência disso. Temos uma profissão que é um privilégio de exercer e é um privilégio sermos úteis à sociedade! Mais uma vez, tirei essa lição do meu trabalho no Peru. Infelizmente as nossas capacidades são um bocado limitadas, mas como diz o nosso povo, ''muitos poucos fazem muito''. Temos que tentar impor-nos na sociedade. Já que não conseguimos como um grande corpo profissional, cada um de nós tem que fazer o melhor que sabe fazer e temos que ser inflexíveis nisso!


Geomanias

Rocha preferida? Granito

Mineral preferido? Quartzo

Fóssil preferido? Trilobite

Unidade litostratigráfica preferida? Quartzito armoricano

Era, Período, Época ou Idade preferido? Paleozoico, claramente!

Trabalho de campo ou de gabinete? Trabalho de campo

Martelo ou microscópio?  Martelo

Amostra de mão ou lâmina delgada? Amostra de mão

Carta Geológica favorita? Carta Geológica 1:2.000.000 de 1968 de Moçambique

Pedra mole ou pedra dura? Pedra dura

Recursos minerais metálicos ou não metálicos? Não metálicos. 

Crosta ou crusta? Crusta! Ainda sou da velha guarda (risos)


Teaser da Entrevista